Folha de S. Paulo


Acusado de arrastar e matar prostituta em Ribeirão será julgado após 18 anos

Madrugada de 11 de setembro de 1998. Após uma discussão, a garota de programa Selma Heloisa Artigas da Silva, a Nicole, 22, desce da Pajero do empresário Pablo Russel Rocha, 24. Com o corpo preso ao cinto de segurança do veículo, ela é arrastada por dois quilômetros em ruas de Ribeirão Preto (a 313 km de São Paulo) e morre.

Foi um terrível acidente ou Pablo a amarrou propositalmente? Dezoito anos após o episódio, o empresário será levado a júri popular no próximo dia 29, no Fórum de Ribeirão, e a questão poderá ser respondida.

A morte de Nicole, grávida de três meses, gerou comoção num dos crimes mais emblemáticos do interior de São Paulo, que chegou a levar Pablo à prisão por dois anos, sem nunca ter sido julgado.

Após ter sido arrastado, o corpo de Nicole, esfacelado, foi abandonado na avenida Caramuru e o empresário foi para casa. Seu carro foi lavado para tentar eliminar vestígios de sangue.

O Ministério Público Estadual acusa o empresário de ter cometido homicídio triplamente qualificado, por utilizar meio cruel, sem defesa da vítima e motivo fútil.

O processo foi marcado por batalhas jurídicas. Pouco mais de um ano após a prisão, um parecer apresentado pelo legista George Sanguinetti, que atuou no caso PC Farias, contrariou a tese inicial de que Pablo amarrou Nicole e a arrastou até a morte.

Laudo do IC (Instituto de Criminalística) descartou que tenha havido um acidente e informou que a garota tinha sido presa pelo braço esquerdo. Parecer do IML de São Paulo indicou que ela foi amarrada por um nó duplo.

Sanguinetti foi contratado pela defesa do acusado à época e, embora absolva o empresário, não afirma como ela ficou presa ao cinto de segurança. A Promotoria refutou o laudo e afirmou que ele não tinha validade como prova judicial. Em 2000, uma decisão do STF (Supremo Tribunal Federal) o libertou.

Esse não foi o único imbróglio judicial. Em 17 de maio de 2012, a falta do veículo como prova e críticas ao Judiciário feitas pela defesa de Pablo resultaram no adiamento do júri popular marcado para aquela data.

O advogado Sergei Cobra Arbex, defensor do empresário, alegou que estava cerceado pela Justiça e o juiz José Roberto Bernardi Liberal decidiu dissolver o julgamento.

Silva Junior-17.mai.2012/Folhapress
O advogado Sergei Cobra Arbex, defensor do empresário Pablo Russel Rocha
O advogado Sergei Cobra Arbex, defensor do empresário Pablo Russel Rocha

Para o defensor, a presença da Pajero era importante para mostrar "como ocorreram os fatos". Ele ainda criticou Liberal e o juiz Luis Augusto Freire Teotônio, primeiro responsável pelo caso e que rejeitou o pedido da presença da Pajero no júri. Ele disse ainda que o juiz mandou queimar laudos técnicos e leiloar o veículo. Teotônio afirmou à época que não responderia as acusações por avaliar como "estratégia de defesa".

Remarcado para agosto do mesmo ano, foi suspenso por uma liminar do STF. Na decisão, o ministro Celso de Mello diz que o juiz Teotônio "teria, aparentemente, antecipado um juízo desfavorável ao paciente, apto a influir, de maneira indevida, sobre o ânimo dos jurados".

Os dois juízes não estão mais no caso. Na última semana, o TJ (Tribunal de Justiça) substituiu Liberal por Giovani Augusto Serra Azul Guimarães. Antes disso, em fevereiro, Teotônio se declarou suspeito e deixou o caso, justamente sob a alegação de que Arbex o acusou de ser parcial.

OUTRO LADO

Advogado de Pablo, Arbex disse que o episódio envolvendo seu cliente e a garota de programa foi um acidente. "Independentemente do tempo [para o júri], sempre confiei nisso e tenho certeza que os sete jurados saberão que o Pablo é inocente, que foi um acidente. Por mais trágico que tenha sido, foi um acidente", afirmou.

Em 1999, na hoje extinta Cadeia de Vila Branca, em Ribeirão, Pablo afirmou que não amarrou a garota de programa no cinto de segurança de seu veículo. "Ela se irritou quando eu falei que ela estava acostumada a trabalhar à noite e dormir durante o dia, enquanto eu teria que trabalhar às 7h", afirmou o acusado.

Em seguida, conforme ele, partiu com a Pajero e não percebeu que ela havia ficado amarrada ao cinto de segurança. "O som e o ar-condicionado do carro estavam ligados. Me senti uma criança de três anos assistindo a um filme de terror quando vi o corpo dela naquele estado", disse. Segundo ele, seu único erro foi "ter saído de casa naquela noite".


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