Folha de S. Paulo


Violência leva cidade vizinha ao Rio a decretar estado de emergência

Ricardo Borges/Folhapress
Policial civil em frente a delegacia de Meriti, na Grande Rio
Policial civil em frente a delegacia de Meriti, na Grande Rio

Um ponto de venda de drogas ao lado da prefeitura. Bandidos armados com fuzil em plena luz do dia em bairros residenciais. Traficantes impondo taxa diária de R$ 100 para os taxistas trabalharem na região central.

Este é o cenário que levou o prefeito Sandro Matos (PHS) a decretar estado de emergência por 180 dias em São João de Meriti, município da Baixada Fluminense vizinho ao Rio, que sofre com a escalada da violência.

O decreto foi emitido para chamar a atenção dos governos estadual e federal, no dia 1º de junho; na véspera, cinco bairros haviam virado palco de tiroteio entre traficantes.

Duas semanas depois, o Estado do Rio decretou estado de calamidade pública em razão da grave crise financeira, afirmando que ela poderia causar o total colapso na segurança pública, na saúde, na educação, na mobilidade e na gestão ambiental.

Cidade de maior densidade demográfica do Brasil, Meriti conta com apenas 230 policiais (35 por dia) para proteger seus 469 mil habitantes média de um agente para cada 2.040 moradores, bem longe do recomendado pela ONU, que é de um policial para cada 450 pessoas.

De acordo com moradores e autoridades, a rotina mudou com a migração de bandidos das favelas ocupadas pelas UPPs (Unidades de Polícia Pacificadora) da capital.

O prefeito alega que a violência cresceu pela proximidade com complexos da zona norte do Rio que fazem divisa com São João de Meriti e viraram os principais redutos dos traficantes do Comando Vermelho (Chapadão) e da Amigos dos Amigos (Pedreira).

Além do projeto das UPPs estar falido, já que os moradores das regiões beneficiadas voltaram a sentir medo, essa política de pacificação nos tornou vítimas, diz o prefeito do município.

No início [implantação das UPPs], os traficantes fugitivos se esconderam próximo da nossa divisa. Nos últimos meses, decidiram expandir o negócio e invadiram a nossa cidade. Sem polícia aqui, fica difícil controlar. Por isso, decidi decretar estado de emergência, completou.

CENAS DE VIOLÊNCIA

No município, localizado às margens da Via Dutra, é comum moradores relatarem a recente tomada de comunidades e bairros pelo tráfico. Vídeos com cenas de violência são postados na internet.

No início do ano, traficantes entraram na rua da minha filha e anunciaram que venderiam drogas lá. A partir daí, minha neta de três anos sempre chega na minha casa contando sobre o barulho dos tiroteios. Isso não é vida, diz o ambulante Osvaldo Neves, 72.

Nos último meses, criminosos chegaram a instalar barricadas em comunidades para evitar a entrada da polícia. Segundo o batalhão local da PM, mais de duas toneladas de barreiras foram retiradas em apenas um dia.

Moradores dizem ser comum ladrões usarem motos para assaltos em série, à luz do dia. Há dois meses, estava dirigindo com a minha família e meu carro foi fechado por homens armados com fuzis. Tive que correr para pegar a minha filha no banco de trás. Foi horrível, diz um funcionário da prefeitura.

À noite, os moradores adotaram toque de recolher informal. As ruas ficam vazias, e até os cultos nas igrejas evangélicas foram antecipados para os fiéis voltarem para casa mais cedo. A prefeitura mudou o horário da coleta de lixo. Parte do trabalho dos garis era feito à noite, o que foi inviabilizado por segurança.

Desde o ano passado, a cidade é recordista de chamadas ao Disque Denúncia no Estado. De acordo com pesquisa da FGV, o órgão recebeu 14.258 denúncias de moradores, o que corresponde a 31 queixas a cada mil habitantes.

Procurada, a PM informou que o batalhão local tem atuado em toda sua área para combater crimes e garantir a segurança da população. A Secretaria da Segurança Pública do Estado do Rio não quis comentar as declarações do prefeito da cidade, que culpa a situação atual das UPPs pelo aumento da violência na cidade.


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