Folha de S. Paulo


'Batalha militar' de 4 h mata brasileiro chefe do tráfico na fronteira paraguaia

Reprodução/Twitter/ABC Digital
15 de Junio de 2016 20:02 Confirman muerte de Rafaat El empresario Jorge Rafaat Toumani fue la víctima fatal del atentado ocurrido en Pedro Juan Caballero, confirmó el intendente de la ciudad, José Carlos Acevedo, quien expresó que lo ocurrido
Carro em que morreu o traficante Jorge Rafaat; veículo foi alvo de tiros de metralhadora antiaérea

O traficante Jorge Rafaat Toumani, 56, foi morto a tiros na noite da última quarta-feira (15) no centro de Pedro Juan Caballero, cidade paraguaia onde morava, na fronteira com Ponta Porã (MS).

Chefe do narcotráfico na região, ele havia sido condenado em 2014 no Brasil a penas que somam 47 anos de prisão.

Rafaat foi morto em meio à guerra pelo controle do tráfico de drogas na fronteira entre Brasil e Paraguai.

A polícia paraguaia suspeita que a execução tenha sido planejada pela facção criminosa paulista PCC (Primeiro Comando da Capital), que busca se estabelecer na fronteira em parceria com o "barão da droga" Jarvis Ximenes Pavão. Também não descarta que o Comando Vermelho, outra facção brasileira, tenha participado da operação.

Segundo policiais civis e federais, a região de Pedro Juan Caballero é a única do Paraguai que não tinha sido dominada pelos traficantes do PCC. Com um pequeno exército à disposição, "Padrinho", como era conhecido, repeliu várias tentativas de traficantes brasileiros de domínio do tráfico local.

Rafaat havia escapado de dois atentados, o último deles há três meses. Desta vez, os pistoleiros cercaram o jipe Hummer dirigido por Rafaat e romperam a blindagem com armamento militar de calibre.50 acoplado na parte traseira de uma Toyota Hilux SW4. Ele foi atingido por 16 projéteis.

Os seguranças de Rafaat seguiam em outros carros logo atrás e reagiram, dando início a um tiroteio que teria envolvido 70 pessoas e durado quatro horas. A escolta pessoal do traficante é estimada em cerca de 30 homens, todos fortemente armados.

Até o fim da tarde desta quinta (16), a polícia paraguaia havia prendido oito pessoas envolvidas na troca de tiros. Entre eles está o brasileiro Sérgio Lima dos Santos, 34, que foi atingido pelos seguranças de Rafaat e está internado sob escolta policial na capital, Assunção.

Sérgio teria sido o operador da arma antiaérea que perfurou a blindagem do carro de Rafaat. Segundo a polícia paraguaia, ele nasceu no Estado do Rio de Janeiro.

FICHA

Rafaat –que dizia ter nascido no Paraguai, mas era registrado no Brasil–, foi condenado em primeira instância pela Justiça federal brasileira em abril de 2014 por tráfico internacional de drogas.

As penas somadas chegam a 47 anos de prisão em regime fechado, mais multa de R$ 403,8 mil. O irmão dele, Joseph Rafaat Toumani, foi condenado a 15 anos de prisão. A Justiça confiscou aviões, carros e imóveis da família.

Depois disso, Rafaat cruzou a fronteira e ostentava uma vida de luxo como empresário em Pedro Juan Caballero. Tinha comércios de pneus e de materiais de construção, mas atuava mesmo no tráfico de drogas.

Vivia livre no Paraguai porque as autoridades do país não dispunham de provas para incriminá-lo, embora a Senad (secretaria nacional paraguaia de políticas antidrogas) acompanhasse os movimentos dele havia anos.

Rafaat tentou ocupar o vazio deixado na fronteira após a prisão de Fernandinho Beira Mar, em 2002. Ele já tinha ligações com o crime organizado desde os anos 1990, tendo começado contrabandeando café. Envolveu-se ainda com tráfico de armas e drogas.

Em 1996, o Banco Central brasileiro identificou uma remessa de R$ 520 mil para o Uruguai, por meio de uma conta da Gabarito Materiais de Construções no Banco de Crédito Nacional (BCN). Registrou ainda R$ 5,5 milhões movimentados entre 1996 e 1998 nesta conta e na de outra empresa de Rafaat.

Ele usava laranjas para a movimentação financeira em duas empresas. Condenado a dez anos de prisão por lavagem de dinheiro, cumpriu parte da pena e conseguiu anular o restante no STJ (Superior Tribunal de Justiça).

Desde a década de 1990 ele vinha se articulando para assumir o controle do tráfico de drogas na fronteira.

Em maio de 2001, pistoleiros atacaram com metralhadoras as instalações da empresa de Rafaat em Pedro Juan Caballero. À época, investigações da Senad concluíram que ele queria herdar os negócios de Beira Mar a partir de contatos que mantinha com cartéis colombianos.

A prisão de Rafaat foi decretada pela primeira vez em 2003, e ele ficou preso por três anos. Em 2004, a Polícia Federal apreendeu em São José do Rio Preto (SP) 492 kg de cocaína despachados por ele.
Em março deste ano, Rafaat sofreu novo atentado, desta vez planejado supostamente pelo PCC.

Os pistoleiros foram perseguidos pelos seguranças de Rafaat e abandonaram um caminhão com várias metralhadoras no lado brasileiro da fronteira.

As investigações do atentado levaram a polícia paraguaia a descobrir, uma semana depois, um arsenal escondido em uma casa num bairro da periferia de Assunção.

ANOS 1990

A atuação de Jorge Rafaat Toumani no tráfico de drogas é conhecido pela Polícia Civil de São Paulo desde a década de 1990.

Em 1993, equipes do Denarc (narcóticos) apreenderam duas toneladas de maconha e 70 kg de haxixe escondidos em meio a uma carga de madeira.

Os policiais partiram em diligência para um endereço em Ponta Porã (MS) que constava na nota fiscal da carga transportada.

Lá, só encontraram uma casa onde estavam instalados equipamentos de rádio (tecnologia de última geração) que enviavam para o lado paraguaio, em Pedro Juan Caballero, os telefonemas recebidos naquele endereço.

Descobriram, também, que tudo pertencia a pessoas ligadas Toumani e, desde então, acompanham notícias dele.

Colaboraram RUBENS VALENTE, de Brasília, e ROGÉRIO PAGNAN, de São Paulo

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A MORTE DE JORGE RAFAAT

1. Ataque
Rafaat estava em um jipe Hummer blindado, no centro da cidade, quando foi alvo de tiros. Os vidros do veículo não resistiram às balas de uma metralhadora de calibre.50
Ele morreu ao volante, sem tentar se defender, segundo disse o médico legista Marcos Prieto, que inspecionou o corpo, à imprensa paraguaia

2. Tiroteio
Os seguranças do traficante, que estavam em outro veículo, tocaram tiros com os pistoleiros por cerca de 4 horas

3. Desfecho
O tiroteio continuou até a r. José Felix Estigarribia, em uma área onde ficam universidades, bares, bancos e um sanatório
Após o crime, ainda houve um ataque a prédios de empresas de Rafaat no Paraguai, e foi colocado fogo em uma revenda de pneus do traficante

Fonte: Jornal paraguaio ABC Color


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