Folha de S. Paulo


Assistência a moradores de rua avança pouco na gestão Fernando Haddad

Zanone Fraissat/Folhapress
Morador de rua se protege do frio na rua General Jardim, região central de São Paulo
Morador de rua se protege do frio na rua General Jardim, região central de São Paulo

A política de atendimento a moradores de rua em São Paulo pouco avançou na gestão do prefeito Fernando Haddad (PT). O número de pessoas dormindo nas ruas subiu e a qualidade dos albergues é criticada pelos usuários –que muitas vezes preferem encarar madrugadas geladas ao relento a serem recolhidos a um abrigo público.

Ao menos quatro moradores de rua morreram durante a onda de frio dos últimos dias. Para a Pastoral do Povo de Rua, ligada à Igreja Católica, a causa mais provável é a baixa temperatura. O último caso aconteceu no domingo (12), quando Adilson Roberto Justino foi achado morto na calçada da av. Paulista.

No último censo dessa população, de 2015, a cidade tinha 15.905 moradores de rua, sendo 8.570 abrigados (54%). O percentual de acolhimento é quase igual ao do censo de 2011, penúltimo ano da gestão Gilberto Kassab (PSD) –na época, a população de rua era de 14.478, dos quais 7.713 abrigados.

A quantidade de pessoas não acolhidas nesse mesmo período passou de 6.765 para 7.335, um aumento de 8%. Segundo a prefeitura, as vagas fixas para pernoite são de 10 mil, além de 1.400 emergenciais criadas devido ao frio. No último domingo, a lotação chegou a 10.734.

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REJEIÇÃO

Mesmo com leitos remanescentes, muitos preferem encarar as noites na rua. "Chega uma hora que está tão frio que você não consegue nem abrir e fechar as mãos. Mesmo assim, não vou para albergue", diz Anderson Souza Moreira, 21, desempregado que chegou da Bahia há três meses.

"Você é obrigado a sair de lá às 6h. Às vezes a assistência social te leva até um albergue em um bairro do outro lado da cidade e, chegando lá, a vaga não existe", afirma.

Os moradores de rua também reclamam de falta de vagas para famílias (são 590), falta de higiene nos abrigos e de lugar para deixar suas carroças e animais de estimação.

"Os albergues são fedidos, a comida é pouca, e ainda corre risco de pegar tuberculose", diz Joel de Souza, 35. Ele conta que a opção de muitos moradores de rua é andar para se aquecer de noite e ir dormir só no nascer do sol.

"A prefeitura precisa dar uma resposta ao problema de acolhimento", afirma Julio Lancellotti, coordenador da Pastoral do Povo de Rua. Para ele, os atendimentos à população de rua caíram na gestão Haddad. "Ele fechou tendas [criadas na gestão Kassab para atender as pessoas de dia], fechou mais vagas do que criou. E os albergues continuam burocratizados, afastando uma população heterogênea como a de rua."

Segundo a assessoria de Kassab, em 2012 havia 11 mil vagas fixas para atender essa população. A prefeitura diz que a gestão anterior contabilizava atendimentos realizados de dia –a assessoria do ex-prefeito afirma que todas as vagas incluíam pernoite.

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Os moradores de rua também reclamaram da retirada de colchões e papelões, usados como proteção, pelos agentes da GCM (Guarda Civil Metropolitana). A informação foi publicada no jornal "O Estado de S. Paulo". A GCM admitiu a retirada de itens, mas afirmou que deixa objetos pessoas e a ação é para evitar que a população de rua "privatize" espaços públicos, como calçadas.

OUTRO LADO

A gestão Fernando Haddad (PT) afirma ter criado mais de 2.000 novas vagas em albergues nos últimos anos. "Trabalhando com uma lógica de inclusão e acolhimento [a atual gestão] também criou novas modalidades de acolhimento para atender famílias, imigrantes e transexuais", afirma, em nota.

"A principal questão não é investir em novos acolhimentos, mas a qualificação dos acolhimentos existentes e a saída das pessoas desses acolhimentos", diz a secretária de Assistência Social, Luciana Temer. "A gente tentou diversificar atendimento para atender um grupo que não vinha."

Sobre as regras nos albergues, a prefeitura afirma que os locais "são regidos por normas que organizam" atendimento e convívio. "Muitas delas discutidas e aprovadas em conjunto com os acolhidos", diz a gestão Haddad.


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