Folha de S. Paulo


Operação urbana de SP quer zona do rio Tamanduateí verde e habitável

Se o plano da prefeitura der certo, em até três décadas, toda a bacia do rio Tamanduateí, que engloba o histórico riacho do Ipiranga, será um lugar mais habitável.

O projeto da operação urbana Bairros do Tamanduateí, enviado pela gestão Haddad (PT) à Câmara de vereadores, inclui até destampar o rio e recuperar parte das áreas de proteção ambiental de suas margens.

A lista de propostas traz ainda a criação de 12 parques —um deles fluvial—, e a compra, pelo poder público, de prédios históricos para preservar o patrimônio paulistano, caso das antigas instalações da Tecelagem Labor e da Tipografia Casa Vanorden, ambas na Mooca.

A nova operação urbana abrange uma extensa área da capital, nos bairros do Cambuci, Ipiranga, Mooca, Vila Carioca e Vila Prudente.

Para ela dar certo, além de ser aprovada pelos vereadores, o que pode ocorrer até o fim do ano, o mercado imobiliário também precisa comprar, e avalizar, a ideia.

Nessas operações, as construtoras privadas compram o direito de construir a mais do que o permitido por lei, dentro de regras estabelecidas pela legislação da operação. A prefeitura pretende arrecadar R$ 6 bilhões com esse mecanismo no projeto.

De acordo com Gustavo Partezani, diretor da SP Urbanismo, a prefeitura também vai destinar 40% dos recursos da operação para habitação social e construção de equipamentos públicos, como escolas, creches ou até mesmo hospitais.

"São recursos que estão carimbados. Eles não podem ser usados para outros fins", diz o gestor, para quem a operação urbana terá importantes ganhos sociais e ambientais.

"Vai melhorar toda a drenagem da região [o que pode evitar enchentes] e diminuir as ilhas de calor dos bairros", diz Partezani.

Editoria de Arte/Folhapress

ELITIZAÇÃO

Fora o desafio em si de tirar uma operação urbana do papel da forma como ela foi projetada, especialistas ouvidos pela Folha dizem que o próprio projeto em debate apresenta problemas.

"A lógica da operação é dinamizar os investimentos imobiliários em setores como o Tereza Cristina, no Ipiranga, e nos eixos de qualificação em geral", afirma o urbanista Kazuo Nakano. "A elitização de todas essas áreas será inevitável", afirma.

Esse processo poderá expulsar os moradores de baixa renda dos bairros afetados, diz o pesquisador.

Outra falha grave do projeto, segundo a arquiteta Paula Santoro, professora da FAU-USP, é que os locais dos futuros equipamentos públicos que serão feitos na região não estão definidos.

"Isso está em aberto", diz Santoro, para ela o projeto deveria também ter enfocado com ênfase a questão das áreas contaminadas. "Muito dos terrenos da região eram de antigas indústrias. Todos estão potencialmente contaminados."

Especialista em patrimônio histórico, Silvio Oksman defende a tese de que não adianta proteger apenas um edifício histórico, de forma isolada, como prevê o projeto.

"No caso do antigo prédio da Antarctica, por exemplo, não adianta ter só ele, cercado de outros edifícios maiores", diz. "É toda a região que precisaria ser preservada", diz o arquiteto.

De acordo com o diretor da SP Urbanismo, todas as críticas dos especialistas foram consideradas pela prefeitura e são pontos que não vão interferir no resultado final.

Áreas dentro do Ipiranga e da Mooca, que nos últimos anos foram foco do mercado imobiliário e contam com empreendimentos para as classes mais altas, vão continuar com essa vocação, assegura o representante da prefeitura. Para ele, não existe por que tentar mudar.

"É uma operação urbana diferente, que não está pautada em grandes obras como as outras", afirma Partezani, que afirma estar otimista com a viabilidade do projeto.

-

O que é uma operação urbana?

Um conjunto de regras, aprovado por meio de um projeto de lei, para incentivar o desenvolvimento de determinada região da cidade

Como funciona?

As construtoras pagam mais à prefeitura se quiserem construir além do previsto em lei. O município então usa esse dinheiro exclusivamente no urbanismo daquele território

Algumas mudanças previstas

> Destampamento do rio, retificado há cem anos

> Criação de praças e parques ao lado da av. do Estado

> Pontos de ligação entre os dois lados do rio

> Construção de moradias populares

> Preservação de patrimônios históricos, como antigos galpões industriais da Mooca

Fonte: Prefeitura de São Paulo


Endereço da página:

Links no texto: