Folha de S. Paulo


Polícia apura abaixo-assinado contra motoristas que levavam alunos a Mogi

Marina Estarque/Folhapress
Trecho de abaixo-assinado encontrado pela polícia na mochila de uma das vítimas do acidente
Trecho de abaixo-assinado encontrado pela polícia na mochila de uma das vítimas do acidente

A Polícia Civil irá investigar um abaixo-assinado encontrado na mochila de uma das vítimas do acidente com um ônibus de estudantes na rodovia Mogi-Bertioga, no final de noite de quarta-feira (8). O motorista e 17 universitários morreram –confira o perfil das vítimas.

O documento encontrado traz queixas sobre um motorista por realizar manobras ilegais na rodovia, "assim colocando em risco as vidas que estavam sob sua responsabilidade". Como ninguém é citado nominalmente no papel, ainda sem nenhuma assinatura, não está claro se o texto diz respeito a Antonio Carlos da Silva, condutor do ônibus que se acidentou –o espaço correspondente ao nome estava em branco. Será isso justamente o que a polícia irá apurar, assim como quem o elaborou.

À Folha uma das sobreviventes do acidente, a estudante de psicologia Aline de Jesus dos Santos, 20, disse que sabia do abaixo-assinado e que ele era, de fato, contra o trabalho de Silva. "Era para tirar ele da linha, porque ele corre sempre, quer chegar mais cedo sempre." Mas Aline disse não saber quem era o responsável pelo documento. Ela foi à delegacia para buscar pertences.

A União do Litoral tem seis ônibus que fazem diariamente o trajeto entre São Sebastião e Mogi das Cruzes, para levar cerca de 250 estudantes do município litorâneo para universidades. São cerca de 250 km todos os dias na estrada.

"Havia algumas atitudes (...) que colocaram em risco a integridade física dos alunos que utilizam o transporte. O motorista [não mencionado] por várias vezes, no trecho de serra da Mogi-Bertioga, em condições de tempo chuvoso e com neblina, realizou manobras ilegais, assim colocando em risco as vidas que estavam sob sua responsabilidade", diz trecho do abaixo-assinado.

O texto era destinado à Secretaria Municipal de Educação de São Sebastião, responsável por bancar o transporte dos alunos até Mogi das Cruzes. A secretaria disse ter tido conhecimento do abaixo-assinado pela imprensa –e que nenhum documento do tipo foi protocolado na pasta.

Nem todos os alunos tinham problemas com o motorista, segundo a estudante de Ciências Contábeis Luziene Batista, 19. "Foram umas duas pessoas que estavam com essa ideia [do abaixo assinado], mas não passou disso", diz.

"Alguns tinham problema com o horário que ele queria sair, não com a forma que ele dirigia", afirma. "Ele estava em uma velocidade normal. Acho que foi o freio que falhou", completa.

O estudante de engenharia civil, Heitor Alves Pires Neto, 20, também costumava pegar a linha, mas não estava no ônibus no dia do acidente. Ele afirmou que o motorista era "uma pessoa nervosa". "Não quero falar mal, mas ele era uma pessoa nervosa, a gente ficava com medo", disse. Ele e um grupo de amigos foram à delegacia buscar pertences de algumas das vítimas.

A polícia investiga as possibilidades para o acidente. O tacógrafo do ônibus foi recolhido e será periciado.

A União do Litoral informou não existir nenhuma reclamação nos registros da empresa contra Antonio Carlos da Silva tampouco soube da existência de abaixo-assinado contra ele ou outro profissional. "Quando há alguma reclamação, ela é devidamente apurada pela empresa e, no caso de culpa do motorista, as providencias são tomadas de imediato", disse a empresa. A União do Litoral diz que, em 25 anos, jamais teve acidente fatal.

Em entrevista à Folha, Cezar Donizetti Vieira, 54, que dirigia um carro atingido pelo ônibus pouco antes do acidente, disse que o motorista tentou ultrapassá-lo, não se sabe se de propósito ou não. Vieira será chamado pela polícia a depor. O motorista foi enterrado nesta sexta-feira (10) em São Luiz do Paraitinga, no Vale do Paraíba.

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O ACIDENTE

Por volta das 23h30 de quarta (8), ônibus tombou na rodovia Mogi-Bertioga (SP)

1. O ônibus seguia pela Mogi-Bertioga no sentido litoral, em trecho onde só há uma pista (existem duas pistas no sentido Mogi)

2. A neblina havia acabado após uma região da serra conhecida como "tobogã", e a rodovia tinha boa visibilidade

3. Próximo a uma curva à direita, sem acostamento, ele ultrapassou um carro, chegando a encostar no veículo

4. Nessa hora, começou a balançar, indo de um lado para o outro, prestes a virar

5. Tombou, deslizou pela pista e bateu em uma rocha na margem da via, parando de lado em uma vala

Editoria de Arte/Folhapress

O TRAJETO

O percurso até Mogi das Cruzes é feito todos os dias, com cerca de 250 universitários, por 6 ônibus fretados pela Prefeitura de São Sebastião

40 a 60 km/h é o limite de velocidade no trecho da serra

64 acidentes na rodovia em 2016; neles, seis pessoas morreram

19 acidentes no km 84 desde 2014; foi o 2º incidente com mortos no período

Modelo: Marcopolo Viaggio G6 1050
Empresa: União Litoral
Ano de fabricação: 2005


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