Folha de S. Paulo


Policiais militares alteraram cena da morte de menino Italo, diz perícia

Peritos responsáveis pela investigação da morte do menino Italo, 10, após furto de carro na Vila Andrade (zona sul), no último dia 2, apontaram que o local onde a criança morreu foi alterado pelos policiais militares envolvidos na ocorrência.

No laudo, que atestou rastros de chumbo e pólvora nas mãos da criança, os peritos dizem que os trabalhos foram dificultados pelo fato de o carro ter sido revirado pelos PMs, o corpo do menino ter sido tirado da posição original e, principalmente, o revólver calibre 38 apreendido ter sido retirado do local.

Apesar de ressaltarem que os resultados não foram comprometidos, os peritos destacam que exames importantes, na arma e no carro, não puderam ser feitos com precisão.

Investigadores avaliavam a possibilidade de o menino ter sido morto quando tentava descer do carro.

Segundo delegados do DHPP (Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa), o procedimento legal é que a Polícia Militar acione o órgão logo depois de ocorrida a resistência seguida de morte, mantendo a cena intacta.

Os primeiros resultados da perícia apontaram que Italo tinha rastros de chumbo e pólvora nas mãos, mas que não haviam sinais claros de disparos feitos de dentro do veículo. A perícia não desmente a versão dos PMs e o primeiro depoimento dado pelo menino de 11 anos que também estava no carro, de que Italo teria aberto e fechado a janela para atirar, colocando o braço esquerdo para fora. Segundo a perícia, a criança teria segurado o revólver por toda a fuga.

Os resultados são considerados inconclusivos pela Polícia Civil, que pedirá mais exames. O laudo deverá ficar pronto em cerca de um mês.

Chamou a atenção da Polícia Civil o fato de uma luva que teria sido usada pelo menino na mão direita não ter rastros de pólvora e chumbo.

A Corregedoria da PM entregou ontem à Polícia Civil áudios gravados pela central de operações da PM no dia do ocorrido. Em um deles, um policial da Rocam afirma que dois tiros foram dados do carro em movimento. Depois de alguns minutos, afirma que o motorista foi baleado em troca de tiros.

OUTRO LADO

A Secretaria Estadual da Segurança Pública, da gestão Geraldo Alckmin (PSDB), disse em nota divulgada nesta quinta (9) que a cena do crime foi alterada pela necessidade de fazer "uma minuciosa revista" no carro furtado, para verificação de outras armas ou provas.

Diz que o corpo de Italo foi mudado de lugar devido ao atendimento da ambulância e confirma que o colega do garoto desceu do veículo pela porta da frente, o que colaborou para a alteração de evidências.

Afirma ainda que a Polícia Civil foi acionada pouco mais de uma hora após o ocorrido, portanto, a criança sobrevivente teria sido apresentada menos de três horas depois.

A secretaria não comentou sobre a retirada do revólver da cena do crime.


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