Folha de S. Paulo


Estudante diz que só sobreviveu porque colocou cinto de segurança

"Põe o cinto, põe o cinto!" Essa foi a exclamação que pode ter salvado a vida da estudante de biologia Mayara Gomes Carvalho, 20, que sobreviveu ao acidente que deixou 18 mortos na rodovia Mogi-Bertioga nesta quarta (8).

Bastante abalada e com ferimentos grandes no rosto, a aluna da Universidade de Mogi das Cruzes foi ao DP de Bertioga na tarde desta quinta (8) recolher seus pertences, acompanhada dos pais.

Carvalho relatou aos investigadores que, como o ônibus balançava muito logo antes do acidente, passageiros começaram a gritar para que os colegas colocassem o cinto de segurança, ao que ela obedeceu.

O uso de cinto de segurança para passageiros em veículos de transporte coletivo rodoviário é obrigatório, com multa prevista para o motorista e empresa que varia entre R$ 1.000 e R$ 3.000. Segundo resolução da ANTT (Agência Nacional de Transportes Terrestres) de 2004, as empresas são obrigadas a informar aos usuários todos os procedimentos de segurança.

Apesar das exigências, 98% dos passageiros de ônibus ignoram o cinto de segurança em viagens rodoviárias, segundo pesquisa da ANTT de 2013.

Para Paulo Guimarães, diretor técnico do Observatório Nacional de Segurança Viária, há uma deficiência de percepção de risco por parte da sociedade. "A gente atribuiu isso a três esferas. Primeiro, é o motorista, que não costuma cobrar o uso. Depois, os órgãos de fiscalização, que não fiscalizam adequadamente", diz ele. "Mas, acima de tudo, as pessoas dentro do ônibus se sente confortável sem cinto, não percebe o risco que está correndo", diz.

"Por causa dessa falha de percepção de risco, as pessoas só usam cinto nos carros por medo da multa. Ninguém faz questão de usar no banco traseiro, por exemplo", lembra. O uso do equipamento pode reduzir em 75% a probabilidade de morte em acidentes, segundo levantamento recente da Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia.

A empresa União do Litoral, responsável pelo veículo, afirmou que o uso do cinto de segurança é obrigatório e as empresas têm a obrigação e o compromisso de avisar sobre a importância do uso. "Porém, não há como fiscalizar o efetivo cumprimento da obrigação, pois pode acontecer de, no momento em que o coletivo inicia a viagem, o passageiro soltar cinto", disse, em nota.

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O ACIDENTE

Editoria de Arte/Folhapress
Mapa acidente Mogi

Por volta das 23h30 de quarta (8), ônibus que levava estudantes tombou na rodovia Mogi-Bertioga (SP)

1. O ônibus seguia pela Mogi-Bertioga no sentido litoral, em trecho onde só há uma pista (existem duas pistas no sentido Mogi)

2. A neblina havia acabado após uma região da serra conhecida como "tobogã", e a rodovia tinha boa visibilidade

3. Próximo a uma curva à direita, sem acostamento, ele ultrapassou um carro, chegando a encostar no veículo

4. Nessa hora, começou a balançar, indo de um lado para o outro, prestes a virar

5. Tombou, deslizou pela pista e bateu em uma rocha na margem da via, parando de lado em uma vala

Editoria de Arte/Folhapress

A ESTRADA E O ÔNIBUS

O percurso até Mogi das Cruzes é feito todos os dias, com cerca de 250 universitários, por 6 ônibus fretados pela Prefeitura de São Sebastião

40 a 60 km/h é o limite de velocidade no trecho da serra da Mogi-Bertioga (40 km/h com pista molhada e 60 km/h em pista seca)

64 acidentes aconteceram na rodovia em 2016; neles, seis pessoas morreram

4 ônibus, pelo menos, tombaram neste ponto desde 2006, deixando 54 feridos e 4 mortos. O último foi neste ano, mas sem vítimas

Modelo do ônibus do acidente: Marcopolo Viaggio G6 1050
Empresa: União do Litoral
Ano de fabricação: 2005

Fontes: Prefeitura de São Sebastião, Polícia Rodoviária Estadual, DER, União do Litoral e Cezar Donizetti Vieira, 54, que dirigia o carro atingido pelo ônibus


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