Folha de S. Paulo


Parentes e amigos criticam motoristas e condições de ônibus de estudantes

Familiares e amigos de vítimas do acidente que matou 18 pessoas na rodovia Mogi-Bertioga criticaram o motorista do ônibus que conduzia os jovens universitários de Mogi das Cruzes (Grande SP) a São Sebastião (litoral paulista).

Havia 35 pessoas no veículo. Morreram 17 estudantes (confira o perfil das vítimas ) e o motorista, Antonio Carlos da Silva, 37. Em sua última mensagem de texto à noiva, Antonio disse que a estrada tinha muita neblina e que, por isso, iria se atrasar. Foi o que contou seu irmão, Anderson da Silva, 27, em frente ao IML de Guarujá.

O veículo, que pertence à empresa União do Litoral, é um dos seis que a Prefeitura de São Sebastião disponibiliza diariamente para levar e trazer moradores da cidade que estudam em universidades de Mogi das Cruzes. A cidade recebe estudantes de vários locais devido às duas universidades e duas faculdades.

Na porta do IML de Guarujá, à espera da liberação do corpo da sobrinha, o caminhoneiro Almir Oliveira dos Santos afirmou que o motorista frequentemente deixava alunos para trás, em Mogi, e até "tirava rachas na rodovia com eles dentro".

Um amigo de outra vítima disse que os alunos tinham criticado recentemente o comportamento de um dos motoristas do serviço de transporte. "Usei o serviço por seis anos. Pela minha vivência, não acho que seja excesso de velocidade, mas imprudência, uma forma brusca de fazer a curva, algo assim", disse ele, que preferiu não se identificar.

Por meio de sua assessoria de imprensa, a empresa União do Litoral afirmou que as críticas não procedem, e que a pasta funcional do motorista "é exemplar, sem reclamações". A empresa diz ainda que um grupo de alunos estava combinando um minuto de silêncio em homenagem ao motorista na tarde desta quinta.

LICENÇA E VISTORIA

Segundo a Prefeitura de São Sebastião, licença e vistoria dos ônibus da empresa, fretados para os estudantes, estavam regularizadas.

Em Mogi das Cruzes, Gilmar Koch, 45, tio de um dos estudantes internados num hospital da cidade, soube do acidente durante a noite. "Além do meu sobrinho, um vizinho meu morreu. Soube por alguns estudantes que o motorista estava fazendo ultrapassagens na serra, logo antes do acidente."

Lorena Pickler, 31, estudante do quinto ano de psicologia na UMC e moradora de São Sebastião, faltou à aula no dia do acidente. Segundo ela, os ônibus fretados eram confortáveis, mas não tinham manutenção regular e que os estudantes já tinham reclamado disso com a empresa.

Otacílio Alves de Lima, motorista, caseiro e pai da estudante Rita, 19, morta no acidente, disse que a maioria dos estudantes criticava os motoristas e os ônibus da empresa. "Tinha gente irresponsável, desqualificada para andar na serra, e muitos problemas nos freios, ônibus antigos. As queixas eram frequentes", disse à Folha, no IML de Guarujá.

MOTORISTA

O irmão do motorista, Anderson da Silva, disse ainda que o tacógrafo do veículo registrou 48 km/h em sua última medição. "Ou seja, ele não estava correndo. Estavam acusando ele de várias coisas, não gostei disso. Temos que esperar a perícia."

Ainda de acordo com Anderson, Antonio Carlos era motorista havia mais de dez anos. Nascido em Ubatuba, também no litoral norte, era apaixonado pelo volante. O pai, Geraldo Alves da Silva, morreu há cinco anos em um acidente de caminhão. O irmão conta que não havia sobrecarga de trabalho e que a empresa oferecia sempre bons veículos. "Lembro que outro dia mesmo ele disse que ia parar dois dias porque o ônibus dele iria para a revisão."

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Editoria de Arte/Folhapress

O ACIDENTE

Por volta das 23h30 de quarta (8), ônibus tombou na rodovia Mogi-Bertioga (SP)

1. O ônibus seguia pela Mogi-Bertioga no sentido litoral, em trecho onde só há uma pista (existem duas pistas no sentido Mogi)

2. A neblina havia acabado após uma região da serra conhecida como "tobogã", e a rodovia tinha boa visibilidade

3. Próximo a uma curva à direita, sem acostamento, ele ultrapassou um carro, chegando a encostar no veículo

4. Nessa hora, começou a balançar, indo de um lado para o outro, prestes a virar

5. Tombou, deslizou pela pista e bateu em uma rocha na margem da via, parando de lado em uma vala

Editoria de Arte/Folhapress

O TRAJETO

O percurso até Mogi das Cruzes é feito todos os dias, com cerca de 250 universitários, por 6 ônibus fretados pela Prefeitura de São Sebastião

40 a 60 km/h
é o limite de velocidade no trecho da serra

64 acidentes na rodovia em 2016; neles, seis pessoas morreram

19 acidentes no km 84 desde 2014; foi o 2º incidente com mortos no período

Modelo: Marcopolo Viaggio G6 1050
Empresa: União Litoral
Ano de fabricação: 2005


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