Folha de S. Paulo


Contra aedes, Estados brasileiros pedem ações de países vizinhos

Um Estado brasileiro aplicou veneno na Venezuela. Outro pediu ao governo federal que acionasse Bolívia e Paraguai para combater o mosquito transmissor de dengue, zika e chikungunya. Já a Argentina fez mutirões na região da tríplice fronteira.

Com epidemia em anos anteriores, ligeiro crescimento no total de casos de dengue no país e avanço nos atendimentos por chikungunya e zika, as ações de combate ao mosquito Aedes aegypti romperam as fronteiras do país.

É o caso de Roraima, que fez borrifação com carro-fumacê em Santa Elena de Uairén, cidade venezuelana próxima à divisa com o Brasil. Segundo o Estado, há anos os governos sentiam a necessidade da ação, mas nunca houve articulação para isso.

Foram usados cinco veículos, por três dias, para nebulizar a região, em ação que deve ser repetida. Apesar de os casos prováveis de dengue apresentarem sinais de desaceleração nas últimas semanas, o total de registros no Brasil chega a 1,05 milhão até 23 de abril. Em 2015, no mesmo período, eram 994.205.

Além de Roraima, Mato Grosso do Sul quer que Bolívia e Paraguai desenvolvam ações de combate ao aedes. A principal preocupação é com lixo e possíveis criadouros do mosquito na fronteira.

"Agora são três doenças. Em 50 m [no país vizinho], a gente vê um monte de coisas e não pode fazer nada. O nosso cuidado é superior ao dos países vizinhos. É uma porta de entrada para doenças", disse Mauro Lucio Rosário, coordenador estadual de Controle de Vetores.

De acordo com ele, barreiras epidemiológicas foram adotadas em cidades fronteiriças, mas isso não impediu a chegada de casos suspeitos de chikungunya da Bolívia. Já o governo argentino fez mutirão em Puerto Iguazú, cidade próxima às fronteiras com o Brasil e o Paraguai, devido ao avanço nos casos de dengue na cidade.

Aedes aegypti e doenças

CONTRAPONTO

Todas essas medidas são criticadas por Artur Timerman, presidente da Sociedade Brasileira de Dengue e Arboviroses. Para ele, ações integradas deveriam ser adotadas em toda a América Latina, não só entre vizinhos.

"Não tem nexo. Esse tipo de preocupação é de pessoas que não têm ideia de que estratégias de borrifação podem ser pontuais. Só vai funcionar para mosquito que está voando, não é para larvas."

Segundo ele, o ideal é discutir questões como saneamento básico, urbanização e áreas verdes nesses países. "Se não discutir isso, tudo é jogar fumaça na cara da sociedade, não nos mosquitos."

Outra questão importante, de acordo com o especialista, é conhecer a doença. Boletim epidemiológico do Ministério da Saúde divulgado em maio aponta que sete Estados (AC, AM, RR, AP, RN, PI e BA) desconhecem o tipo predominante da doença na epidemia deste ano.

A dengue tem quatro tipos. Se a pessoa é picada pelo mosquito Aedes aegypti e contrai o tipo 3, estará imune a ele para o resto da vida, mas não aos demais. A cada nova infecção pelos outros tipos, a chance de ter dengue agravada –inclusive hemorrágica– aumenta 12 vezes, afirma Timerman. No Brasil, o sorotipo 1 representa 94,8% do total dos casos prováveis, seguido pelo 4, com 3,2%.


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