Folha de S. Paulo


Microexplosão deixa Jarinu sem água nem luz; cidade 'acabou', diz moradora

"Jarinu não existe mais, corta o coração de ver", disse a dona de casa Viviane de Morais, 27, assustada com a destruição da cidade de 27 mil habitantes, a 68 km de SP.

Viviane foi uma das moradores que saíram de casa nesta segunda (6) para ver os estragos causados pelos fortes ventos que atingiram a cidade na noite anterior e provocaram uma morte e deixaram cerca de 50 pessoas feridas.

O fenômeno climático que atingiu Jarinu é conhecido como microexplosão, no qual rajadas de vento em alta velocidade batem no chão e se espalham. Nesse evento, uma coluna de ar muito forte literalmente despenca do meio da nuvem em direção ao solo, o que pode gerar ventos de mais de 100 km/h.

Normalmente, essas microexplosões ocorrem durante as grandes tempestades, acompanhadas de um grande número de descargas elétricas e de granizo.

"Acabou a cidade, me dá até um tremor. Que triste", conta a dona de casa Isabel Nakamura, 71, que tirava fotos de ruas destruídas.

Com parte dos serviços públicos interrompidos, no dia seguinte à tragédia pessoas perambulavam, atônitas. Entre uma pausa para fotos de celular e suspiros, a Folha ouviu desabafos como: "Achei que fosse morrer" ou "Pensei que o mundo fosse acabar".

Nesta segunda, ruas locais estavam interditadas, com árvores caídas. Os galhos e troncos também danificaram casas no centro da cidade. Segundo a administração local, dez prédios públicos foram atingidos, inclusive a prefeitura, que segue fechada.

O vento arrancou parte do telhado do prédio e, segundo funcionários, equipamentos foram perdidos. "Perdemos cerca de 60% dos documentos do setor de obras e 80% do setor jurídico", diz André Noveli, assessor de Finanças.

Microexplosões

TERROR

Perto da prefeitura, o cemitério local também ficou destruído. Os muros caíram e as flores, colocadas nos túmulos, se espalharam pelas ruas.

O teto de um posto de gasolina desmoronou, e caminhões, que estavam no local, tombaram de lado, virados com a força do vento.

Nas zonas mais atingidas, o cenário comum é telhas de alumínio e zinco retorcidas, levadas pelo vento, que ficaram penduradas no alto de árvores e de postes. "É um terror, a cidade está detonada, bombardeada. Nunca vi nada parecido, em 40 segundos acabou com Jarinu", disse o prefeito, Vicente Cândido Teixeira Filho (PTB).

Até a tarde desta segunda a maior parte da cidade seguia sem energia elétrica e água. Telefones fixos e celulares também não funcionavam. Hospitais e escolas ficaram fechados.

"Acho que vamos demorar de três a quatro meses para arrumar a cidade", admitiu o prefeito.

SEM LUZ E SEM ÁGUA

A Defesa Civil do Estado de São Paulo informou que já havia carros pipa em Jarinu para distribuir água em caráter emergencial para escolas e hospitais.

"A Sabesp vai trazer um gerador para restabelecer o fornecimento de água. E há 30 equipes da companhia de energia vindo para cá. A luz já está voltando aos poucos", afirmou o coronel José Roberto de Oliveira, coordenador da Defesa Civil do Estado de São Paulo, que estava no local.

Segundo Oliveira, o órgão vai criar um gabinete de crise, mas não é possível prever quando os serviços na cidade serão normalizados.

"Felizmente foi de noite, em um domingo chuvoso, com poucas pessoas na rua. Se fosse em um horário de trabalho, teríamos muito mais vítimas. As telhas de alumínio abraçam os postes como se fossem folhas. Isso, se pega em alguém, divide a pessoa ao meio", disse Oliveira, que descreveu a situação do município como "extrema".


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