Folha de S. Paulo


Polícia do Rio apura se adolescente foi violentada várias vezes no mesmo dia

A Polícia Civil do Rio trabalha com a hipótese de que a adolescente de 16 anos, vítima de estupro coletivo em uma favela da zona oeste, tenha sido violentada em diferentes momentos no dia 22 de maio.

De acordo com policiais, as principais dúvidas da investigação já se esgotaram. Tanto a polícia como a Promotoria entendem que a adolescente foi violentada em diferentes momentos, sendo assim, vítima de vários estupros.

O mais evidente deles é o que está registrado no vídeo de 38 segundos que foi divulgado nas redes sociais e fez o caso ganhar notoriedade. Na gravação, ao menos três homens estão no quarto com a adolescente desacordada e ao menos um deles toca nas partes íntimas da garota. Em 2009, a lei 12.015 foi alterada e passou a considerar, além da conjunção carnal, atos libidinosos como crime de estupro. É o caso deste ato gravado em vídeo.

"A minha convicção é de que houve estupro. Está lá no vídeo, que mostra um rapaz manipulando a menina. O estupro está provado. O que eu quero agora é verificar a extensão desse estupro, quantas pessoas praticaram esse crime", disse a delegada Cristiana Bento.

Além do registrado no vídeo, os policiais têm evidências de que houve outros atos libidinosos –estupro, portanto. Há possibilidade de que os traficantes que estavam na boca de fumo, naquela madrugada, tenham participado da violência. Além do chefe do tráfico local, Sérgio Luiz da Silva Júnior, conhecido como Da Russa, outros dois traficantes são procurados pelos policiais.

Promotoria e policiais concentram a investigação nos acontecimentos que se deram enquanto a adolescente estava na casa. Além do vídeo divulgado na internet, os relatos da vítima e dos homens presos até o momento. são a base da apuração.

Até o momento, a adolescente prestou quatro depoimentos à Justiça. São relatos fragmentados devido à sua dificuldade em se lembrar da violência.

PRISÃO

O juiz Aílton Vasconcelos, da 2ª Vara Criminal de Jacarepaguá autorizou a liberação do jogador Lucas Perdomo, 20. A decisão aconteceu a partir do pedido da delegada Cristiana Bento, que coordena as investigações. Perdomo deve ser liberado ainda nesta sexta (3). Não há um horário exato, já que depende de oficial de Justiça e do exame de corpo de delito do jogador.

Na tarde desta quinta (2), a polícia ainda pediu novos mandados de prisão: de Moisés de Lucena, conhecido como Canário, e um outro identificado até o momento como Jefinho. Ambos pertenceriam à quadrilha de traficantes do morro da Barão.

Em seu depoimento, a adolescente relata que Lucena a segurou enquanto era violentada. O reconhecimento foi feito pela tatuagem em dos braços do criminoso. Jefinho foi citado no depoimento de Raí de Souza, já preso, como sendo o responsável por fazer o vídeo da adolescente quando ela estava nua e desacordada no interior da casa.

Com isso, passam a ser oito os suspeitos identificados de terem estuprado a adolescente. Três deles já foram detidos: Raí de Souza, 22, Lucas Perdomo, 20, e Raphael Belo, 41. Desses, a delegada Cristiana Bento, que coordena as investigações do caso, pediu nesta quinta (2), o relaxamento da prisão de Lucas Perdomo.

Até agora, os investigadores não tem como comprovar a presença do atleta no momento em que a jovem estava desacordada. Contribuiu para isso, um depoimento prestado à polícia por uma jovem levada pela defesa do jogador. No dia 27 de maio, a jovem passa uma mensagem para a adolescente vítima que nega a participação de Perdomo no crime.

"Está muito no início para afirmarmos que ele é inocente, mas, até agora, a gente não teve provas suficientes da participação dele, por isso, estou pedindo a soltura", disse a delegada Cristiana Bento. "Ele continua envolvido. O caso (inquérito) não acabou", disse.

Ainda há três homens procurados pela polícia: além de Da Russa, Marcelo da Cruz Miranda Correa e Michel Brasil da Silva.

ESTUPROS NO BRASIL - Apenas 35% dos casos são notificados, segundo pesquisas internacionais

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CRONOLOGIA DO CASO

21.mai.2016 - A adolescente é estuprada de madrugada no complexo de favelas São José Operário, zona oeste do Rio, após ir a um baile funk

24.mai.2016 - A vítima fica sabendo que um vídeo seu circula na internet e volta ao morro para falar com o chefe do tráfico e tentar reaver seu celular, que havia sido roubado

25.mai.2016 - A família da menina é avisada por um vizinho sobre a gravação. No vídeo, em meio a risadas, um grupo de homens toca nas partes íntimas da garota e diz que ela foi violentada por "mais de 30". Em 2009, a lei 12.015 foi alterada e passou a considerar como estupro, além da conjunção carnal, atos libidinosos

26.mai.2016 - A jovem presta o primeiro depoimento à polícia, é medicada em um hospital e faz exames no IML (Instituto Médico Legal)

27.mai.2016 - Ela presta mais dois depoimentos à polícia, assim como dois dos suspeitos de participar do crime; a polícia localiza a casa em que o estupro aconteceu

28.mai.2016 - A então advogada da vítima, Eloísa Samy, pede à Promotoria do Rio o afastamento do delegado Alessandro Thiers. Segundo Samy, Thiers estava tratando o caso com "machismo e a misoginia"

29.mai.2016 - Pressionada, a Polícia Civil do Rio passa o comando das investigações à delegada Cristiana Bento, da DCAV (Delegacia da Criança e do Adolescente Vítima); a pedido da família, a Defensoria Pública passa a defender a menina

30.mai.2016 - Polícia Civil realiza operação para prender seis suspeitos de participar do crime; Rai de Souza, 22, e Lucas Perdomo, 20, são detidos

31.mai.2016
A vítima e sua família entram no programa federal de proteção à testemunha, o que significa que a menina pode ganhar uma nova identidade e deixar o Rio

1º.jun.2016
Um terceiro suspeito se apresenta à polícia. Raphael Duarte Belo, 41, aparece no vídeo fazendo uma selfie ao lado do corpo da jovem

2.jun.2016
Polícia Civil do Rio pede a prisão de mais dois homens: Moisés de Lucena, que foi acusado pela vítima de tê-la segurado, e um homem identificado como Jeferson. Com isso, passam a ser oito os suspeitos de envolvimento no crime


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