Folha de S. Paulo


Polícia pede a prisão de mais dois suspeitos de estupro de menina no Rio

A Polícia Civil do Rio pediu nesta quinta-feira (2) a prisão de mais dois suspeitos no caso do estupro da adolescente de 16 anos no morro da Barão, na zona oeste do Rio.

Os suspeitos são Moisés de Lucena, que foi acusado pela vítima de tê-la segurado e teria sido reconhecido por uma tatuagem, e o homem identificado como Jeferson, o Jefinho, cuja participação foi citado por um dos suspeitos já preso, Raí de Souza.

Segundo ele, Jeferson seria traficante do morro da Barão e o teria acompanhado dentro da casa durante a gravação do vídeo que mostrava a vítima inconsciente e sendo abusada. Inicialmente, Raí afirmou ter sido ele o autor da gravação, mas posteriormente a atribuiu a Jeferson.

Com isso, passam a ser oito os suspeitos de envolvimento no crime. Três deles já foram detidos: além de Raí, foi transferido hoje para o presídio Bangu 10 o jogador de futebol Lucas Perdomo, 20. Raphael Belo, 41, deve permanecer, por enquanto, na Cidade da Polícia. Belo, que fez uma selfie ao lado da garota desacordada, se entregou à polícia na quarta-feira (1°).

Perdomo, no entanto, deve ser liberado ainda nesta semana. Seus advogados pediram à 2ª Vara Criminal de Jacarepaguá o relaxamento de sua prisão, e a polícia deu parecer favorável à soltura.

"Está muito no início para afirmarmos que ele é inocente, mas, até agora, a gente não teve provas suficientes da participação dele, por isso estou pedindo a soltura", afirmou a delegada Cristiana Bento. "Ele continua envolvido [no inquérito], o caso não acabou."

O jogador teria sido namorado da vítima de estupro e, segundo ela, foi com ele que ela se encontrou durante o baile funk no morro, no sábado (21). Os dois teriam ido para a casa dele e, a partir de então, a jovem diz só se lembrar de ter acordado em outra casa, cercada por 33 homens armados.

Lucas afirmou que não teve relações com a adolescente naquela noite. Ele estaria com outra menina e a vítima teria ficado com Raí –versão que o outro suspeito preso também confirma.

A defesa do jogador também apresentou aos policiais, como prova de sua inocência, uma conversa privada pelo Twitter de Bruna Dias, amiga do atleta, com a jovem que foi estuprada.

No bate-papo exibido aos jornalista pelo advogado, Bruna pergunta na sexta (27) a uma pessoa, que supostamente seria a vítima do estupro coletivo, se foi o "Petão mesmo" [apelido de Lucas na comunidade], que teria cometido o crime. Uma das respostas é "Não, tá louca".

ESTUPROS NO BRASIL - Apenas 35% dos casos são notificados, segundo pesquisas internacionais

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CRONOLOGIA DO CASO

21.mai.2016 - A adolescente é estuprada de madrugada no complexo de favelas São José Operário, zona oeste do Rio, após ir a um baile funk

24.mai.2016 - A vítima fica sabendo que um vídeo seu circula na internet e volta ao morro para falar com o chefe do tráfico e tentar reaver seu celular, que havia sido roubado

25.mai.2016 - A família da menina é avisada por um vizinho sobre a gravação, em que um grupo de homens, em meio a risadas, toca nas partes íntimas da garota e diz que ela foi violentada por "mais de 30". Em 2009, a lei 12.015 foi alterada e passou a considerar como estupro, além da conjunção carnal, atos libidinosos

26.mai.2016 - A jovem presta o primeiro depoimento à polícia, é medicada em um hospital e faz exames no IML (Instituto Médico Legal)

27.mai.2016 - Ela presta mais dois depoimentos à polícia, assim como dois dos suspeitos de participar do crime; a polícia localiza a casa em que o estupro aconteceu

28.mai.2016 - A então advogada da vítima, Eloísa Samy, pede à Promotoria do Rio o afastamento do delegado Alessandro Thiers. Segundo Samy, Thiers estava tratando o caso com "machismo e a misoginia"

29.mai.2016 - Pressionada, a Polícia Civil do Rio passa o comando das investigações à delegada Cristiana Bento, da DCAV (Delegacia da Criança e do Adolescente Vítima); a pedido da família, a Defensoria Pública passa a defender a menina, que entra em programa de proteção do Estado

30.mai.2016 - Polícia Civil realiza operação para prender seis suspeitos de participar do crime; quatro continuam foragidos


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