Folha de S. Paulo


Com programa de proteção, vítima de estupro deve mudar nome e sair do RJ

A adolescente de 16 anos que foi vítima de estupro em uma favela da zona oeste do Rio deverá ganhar uma nova identidade e deixar a capital do Estado. A mudança é consequência da entrada da jovem e de sua família no programa federal de proteção à testemunha, nesta terça (31).

Todos foram vítimas de ameaças de moradores do Rio e até de outros Estados. A polícia suspeita que entre os intimidadores esteja o traficante Luiz Machado Gomes, o Marreta, citado por um dos homens no vídeo que deu origem à investigação do estupro.

A polícia recebeu a informação, ainda não confirmada, de que um integrante do grupo de Marreta teria sido encarregado de matar a adolescente. O chefe do tráfico no morro da Barão, cenário do crime, cumpre pena no presídio federal de Porto Velho (RO).

No domingo (29), em entrevista à TV Globo, a garota disse que recebeu ameaças nas redes sociais.

"A família dela tem como maior medo uma possível vingança desses traficantes", afirmou o secretário de Ação Social do Estado, Paulo Melo. "Acho que aqui não é o Estado ideal para ela continuar vivendo. A ameaça de morte é real."

Desde domingo (29), a investigação do caso é conduzida por Cristiana Bento, titular da Delegacia da Criança e Adolescente Vítima. Ela disse que "o estupro está provado" –no vídeo, um rapaz toca nas partes íntimas da menina.

Desde 2009, a lei considera, além da conjunção carnal, atos libidinosos como crime de estupro. A delegada disse ter sete suspeitos e pediu a prisão de seis. Dois já estão presos: Lucas Perdomo, 20, e Rai de Souza, 22. Eles negam o estupro.

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CRONOLOGIA DO CASO

21.mai.2016 - A adolescente é estuprada de madrugada no complexo de favelas São José Operário, zona oeste do Rio, após ir a um baile funk

24.mai.2016 - A vítima fica sabendo que um vídeo seu circula na internet e volta ao morro para falar com o chefe do tráfico e tentar reaver seu celular, que havia sido roubado

25.mai.2016 - A família da menina é avisada por um vizinho sobre a gravação, em que um grupo de homens, em meio a risadas, toca nas partes íntimas da garota e diz que ela foi violentada por "mais de 30". Em 2009, a lei 12.015 foi alterada e passou a considerar como estupro, além da conjunção carnal, atos libidinosos

26.mai.2016 - A jovem presta o primeiro depoimento à polícia, é medicada em um hospital e faz exames no IML (Instituto Médico Legal)

27.mai.2016 - Ela presta mais dois depoimentos à polícia, assim como dois dos suspeitos de participar do crime; a polícia localiza a casa em que o estupro aconteceu

28.mai.2016 - A então advogada da vítima, Eloísa Samy, pede à Promotoria do Rio o afastamento do delegado Alessandro Thiers. Segundo Samy, Thiers estava tratando o caso com "machismo e a misoginia"

29.mai.2016 - Pressionada, a Polícia Civil do Rio passa o comando das investigações à delegada Cristiana Bento, da DCAV (Delegacia da Criança e do Adolescente Vítima); a pedido da família, a Defensoria Pública passa a defender a menina, que entra em programa de proteção do Estado

30.mai.2016 - Polícia Civil realiza operação para prender seis suspeitos de participar do crime; quatro continuam foragidos


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