Folha de S. Paulo


Com veto a bola, patins e pets, Burle Marx se torna o parque do 'não pode'

Cercado por imóveis milionários do Morumbi, o parque da zona sul de São Paulo é uma área bem preservada remanescente da Mata Atlântica e uma homenagem ao paisagista brasileiro que dá nome ao lugar. Mas é também palco de regras tão rígidas que o tornam um dos mais "linhas-duras" da cidade.

Por ali, não é permitido entrar com materiais de vidro, por exemplo. Tampouco pode-se lançar galhos nos bucólicos lagos. Carrinhos de controle remoto, patinetes e pets não são bem-vindos. Para os piqueniques, as regras também são espartanas já que são permitidos apenas em uma área fora do parque, ao lado do estacionamento.

E o banquete só pode durar duas horas. Além disso, segundo o site do próprio parque, na área dos piqueniques "não é permitido utilizar decorações de festas como balões, bandeirinhas, sonorização, dentre outros".

As normas são motivo de graça até entre funcionários do local. "É um parque chato. Legais são os da minha quebrada [na zona sul]. Lá pode jogar bola, levar animal de estimação. Aqui não pode fazer nada", conta um deles, que não quis se identificar.

Na página do parque no Facebook, o excesso de regras também é criticado. Uma moradora da região diz que as normas fazem do Burle Marx um parque pouco convidativo. "Não se pode fazer quase nada nesse parque."

Outra barreira para a diversão são os custos do passeio. O acesso mais fácil é feito por carro, mas o estacionamento aos finais de semana custa R$ 14. Um hot-dog dos food trucks sai por cerca de R$ 20. "Nesse parque aqui só entra bacana. No fim de semana, só tem carrão aqui", observa um funcionário.

As restrições ficaram ainda mais expostas desde o início deste mês, quando foi inaugurada pela Prefeitura de São Paulo a ponte Laguna sobre o rio Pinheiros. A construção tem uma larga ciclovia que desemboca na porta do Burle Marx. Mas o ciclista que atravessou a nova ponte (pasmem!) não pode entrar com sua bicicleta no Burle Marx.

Há só um pequeno paraciclo, conjunto de cinco aros para prender bicicletas, na entrada do terreno, em uma área onde não há vigilância constante. Apesar de ser público, o Burle Marx é gerido por uma organização social sem fins lucrativos. Cabe a ela estabelecer suas regras.

A administração do Burle Marx disse em nota que o parque tem a função contemplativa e que não tem estrutura física para comportar bicicletas e atividades esportivas, que poderiam causar danos à flora e à fauna silvestres.

A administração e a prefeitura dizem que trabalham para aumentar a construção de bicicletários a fim de atender à demanda de ciclistas, que aumentou desde a inauguração da ponte Laguna.


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