Folha de S. Paulo


Sob Haddad, ambulância do Samu demora mais para atender urgências

As ambulâncias do Samu estão demorando mais tempo para conseguir prestar atendimento de urgência nas ruas da cidade de São Paulo.

Em 2015, a demora cresceu em quatro de cinco regiões em relação ao ano anterior e, na zona sul, já supera 15 minutos, conforme dados obtidos pela Folha via Lei de Acesso à Informação. O padrão de referência aceito por parâmetros internacionais varia de 10 a 12 minutos.

O Samu (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência) foi criado em 2003, é acionado pelo telefone 192 e faz parte da Política Nacional de Atenção a Urgências. Cabe ao governo federal repassar 50% do valor de custeio do serviço, compartilhado com Estados e municípios –na capital, está a cargo da gestão de Fernando Haddad (PT).

Tempo médio de resposta do Samu - Em São Paulo (prioridade 1) por região, em minutos

O levantamento considera os atendimentos de nível 1 do Samu –prioridade absoluta, para casos em que há risco de morte e requerem encaminhamento imediato da vítima ao hospital. Quanto maior a espera, menores as chances de sobrevida após um atropelamento ou acidente com politraumatismo, por exemplo.

"Esse padrão tem que ser o mais rápido possível", diz Dirceu Rodrigues Alves Junior, da Abramet (Associação Brasileira de Medicina de Tráfego), lembrando que "a ambulância tem dificuldade para circular no meio do trânsito" de grandes centros urbanos.

Média de lentidão no pico da tarde - Em km

Em São Paulo, a piora nos resultados contrasta com a melhora do trânsito na cidade entre 2014 e 2015, segundo medição da CET –resultado parcialmente explicado pela crise econômica, que reduz a quantidade de viagens.

Questionada, a prefeitura diz que aspectos como distância e dificuldade de acesso afetam os tempos de chegada das ambulâncias aos locais das ocorrências, mas não detalha os motivos da piora em 2015 nem as informações sobre as equipes –como as possíveis mudanças no número de veículos disponíveis.

TEMPO MÉDIO

Das cinco regiões em que a cidade é dividida para atendimento do serviço de saúde, duas ficaram no ano passado com padrão de socorro acima de 12 minutos: centro-oeste e sul. Em 2014, não havia nenhuma área nessa situação.

O tempo médio para a chegada da ambulância do Samu na centro-oeste foi de 13 minutos e 8 segundos. Na sul, 15 minutos e 8 segundos, uma piora próxima de 40%.

Alves Junior, da Abramet, avalia ser preciso distribuir melhor as ambulâncias pela cidade, colocando-as mais próximas de regiões em que estatisticamente ocorrem mais acidentes de trânsito. Ele considera, ainda assim, haver qualidade no Samu.

Evolução da velocidade média na cidade* - De todos os veículos, no pico da tarde, em km/h

"Temos um bom serviço, bem treinado, com gente especializada. A única coisa é a dificuldade de remoção. Tanto é que estamos vendo que resgate aéreo está sendo mais frequente."

O serviço chegou a receber, há quase quatro anos, um certificado internacional de qualidade. Em São Paulo, além do Samu, há o pronto-atendimento do Grau (Grupo de Resgate e Atenção às Urgências e Emergências), pelo telefone 193.

OUTRO LADO

Responsável pela gestão do serviço prestado pelo Samu na capital paulista, a prefeitura afirma que o atendimento de urgência é realizado "levando em consideração a estrutura disponível e o melhor percurso para atingir menor tempo de deslocamento".

Em nota, a gestão Haddad (PT) diz que o tempo médio é determinado por diversos fatores, como as "distâncias percorridas, a dificuldade de acesso a alguns locais e da velocidade média da frota".

Questionada, ela não chegou a detalhar os motivos que podem ter levado à maior demora para atendimento pelas ambulâncias em 2015 –nem deu informações a respeito do quadro de equipes. Nos casos de máxima prioridade, diz a prefeitura, a orientação é deslocar a ambulância mais próxima.

"Dessa forma, os demais atendimentos são realizados por outros veículos disponíveis, que podem estar distantes, impactando o tempo de deslocamento", afirma.

A prefeitura ressalta que não é possível atribuir o aumento do tempo de deslocamento das ambulâncias ao trânsito na cidade, uma vez que o congestionamento registrado na capital, pelos dados oficiais, teve queda entre 2014 e 2015.

A Central de Regulação do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência atende cerca de 5.000 ligações únicas diariamente. São abertas 1.100 ocorrências por dia.

Para Dirceu Rodrigues Alves Junior, chefe do Departamento de Medicina de Tráfego Ocupacional da Abramet (Associação Brasileira de Medicina de Tráfego), a diminuição da velocidade média nas vias da cidade deve contribuir para a redução nesse número de chamados. "Temos tudo para diminuir os acidentes, diminuímos as velocidades e as lesões produzidas para quem está nos veículos e fora deles", diz.

Em 2015, pela primeira vez em dez anos, a quantidade de mortes em acidentes de trânsito na capital (992) ficou abaixo de 1.000 –houve queda de 20,6% no número de vítimas em relação ao ano anterior. É a maior baixa desde 1998, quando passou a vigorar o novo código de trânsito, e a redução atingiu 23,7%. O número de mortes no trânsito é também o menor da série histórica da CET (companhia de tráfego) –iniciada em 1979.


Endereço da página:

Links no texto: