Folha de S. Paulo


Evento de hip hop aproxima as 'quebradas' Sul e Leste

Gabriela Di Bella/Folhapress
Encontro de Cultura e hip hop na Paróquia Santos Mártires, na Zona Sul de São Paulo
Encontro de Cultura e hip hop na Paróquia Santos Mártires, na Zona Sul de São Paulo

A distância é grande, os caminhos são complicados, mas as culturas, parecidas. Pela primeira vez em 10 anos, o Encontro de Cultura Hip Hop & Aliados, que tradicionalmente acontece na zona leste de São Paulo, desembarcou no último sábado (14) na Paróquia Santos Mártires, no Jardim Ângela, periferia da zona sul.

Para muitos dos participantes vindos do outro extremo da cidade, foi o primeiro contato com a região. É o caso dos grafiteiros Júnior de Souza Lima, 33, e Suelen Frazão, 18.

"Aqui é cheio de sobe e desce, mas periferia é sempre parecida", disse Júnior, enquanto pintava um letreiro escrito "Pudim", sua assinatura como grafiteiro.

Suelen, que escrevia em cores brancas contra um fundo preto "Ame em qualquer sentido", afirmou que no bairro onde mora, Jardim Lucinda, não existe nem sequer uma praça. "Tem que pegar condução para ir a um lugar onde tenha um evento cultural."

A intenção do encontro, organizado pelo rapper Fernando Rodrigues, conhecido como RV, e pela Fundação Tide Setubal, é aproximar linguagens parecidas de territórios afastados para discutir o direito à cidade.
Além da grafitagem, o encontro, que reuniu cerca de 40 pessoas, teve apresentações de break, saraus de poesia e quatro shows.

Wender Ninjinha, 31, um dos b-boys, como são conhecidos os dançarinos do break, abriu as apresentações junto ao grupo Die Hard Crew. "Isso aqui é um fortalecimento da quebrada", disse. "As periferias são muito carentes de cultura."

Moradora da zona sul e grafiteira, Queren Letícia Alves, 20, que também participou do encontro do dia 7 em São Miguel, disse que sentiu diferença no evento na sua região: "Aqui é o lugar onde eu articulo as coisas, a energia é bem mais familiar".

Diogo Silva, 20, que também dançou break, veio de Bandeirantes, no extremo sul da cidade. "Levei 40 minutos de ônibus para chegar até aqui." Nascido em Natal, ele mora há um ano em São Paulo e ensaia sempre que pode no CEU Vila do Sol. "Vim para fortalecer a comunidade hip hop."

O estudante Kevin Raoni, 22, que também esteve nos dois encontros, achou a zona leste mais "agilizada", com casas mais organizadas. Ele considera a zona sul "mais favela". Ainda assim, não acha que os dois territórios sejam tão diferentes: "Não muda muito, lá eu sentia que estava na minha própria quebrada", disse.

Desenhando em um muro uma mulher negra de cabelo azul, a estudante Yanna Alves, 19, veio do município de Embu-Guaçu, ao sul do Jardim Ângela, na região metropolitana. Da sua casa até a zona leste de São Paulo, onde tem familiares, ela leva duas horas e 40 minutos de trem e metrô. De ônibus, o trajeto pode levar até quatro horas.


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