Folha de S. Paulo


Chuva de granizo causa uma morte e derruba 177 árvores em São Paulo

A forte pancada de chuva de granizo que ocorreu no fim da tarde desta segunda-feira (16) em São Paulo causou a morte de uma pessoa no centro da cidade, deixou ao menos 14 feridos e derrubou ao menos 177 árvores, segundo o Corpo de Bombeiros.

A chuva foi ocasionada pela passagem de uma frente fria pela região metropolitana. No largo da Concórdia (Brás), uma árvore caiu em cima de algumas barracas de lanche e matou uma funcionária de uma barraca de açaí, de 22 anos e feriu mais seis pessoas.

"Estava ventando muito forte. A Mônica me pediu uma chave para fechar a (barraca) dela. Nosso medo era de que as barracas saíssem voando, nem pensamos na árvore. Quando dei a chave para ela, logo em seguida a árvore caiu. Falei, 'a Mônica morreu'", diz Edson Monteiro, 52, que trabalhava em barraca ao lado.

No final da tarde, os bombeiros chegaram a informar a morte também de uma segunda pessoa no local, uma criança de dois anos. Mais tarde, porém, os bombeiros disseram que ela foi "ressuscitada" após uma hora de "intervenção intensa" e que passa por cirurgia na Santa Casa. O estado dela é gravíssimo.

QUEDA DE TELHADO

Na rua Boa Vista, na Sé, parte do telhado de um prédio caiu sobre a fiação da linha de trólebus e os fios entraram em curto circuito. "Era um vento muito forte e chuva com granizo. Começou a voar parte dos telhados dos prédios. Aí uma placa do telhado caiu na fiação do trólebus e deu curto circuito. O cabo estourou e ficou chicoteando no asfalto. Eu corri porque não sou besta", diz Fernando Pereira, 53, auxiliar de táxi. Os bombeiros informaram que duas pessoas foram feridas neste acidente.

Na avenida Prof. Alfonso Bovero, em Perdizes, as árvores desabaram sobre uma pizzaria e lanchonete na esquina com a av. Dr. Arnaldo e deixaram mais dois feridos. Um deles é um homem de 42 anos, que sofreu trauma no pescoço. Ele foi encaminhado consciente ao Hospital das Clínicas.

Alfonso Bovero

Só na região da República, a reportagem contou cinco quedas de árvores –uma na praça Dom José Gaspar, uma no cruzamento da rua Martins Fontes com a avenida São Luís e três na rua Maria Paula, próximo à Câmara dos Vereadores. Uma delas caiu em cima de um automóvel Corolla –o motorista não se feriu.

'TEMPESTADE DE AREIA'

O trânsito na Maria Paula foi interditado em um dos dois lados da pista para a remoção das árvores e os trólebus não estão circulando na região, porque a árvore caiu em cima dos fios elétricos.

"Não sabia se era areia ou granizo. Parecia uma tempestade de areia do deserto, não dava para ver nada. Não demorou nem um minuto, nunca vi igual. Se durasse mais, meu Deus... Mandei as crianças para dentro [do bar]. Só ouvi o barulho da árvore caindo no carro, mas dava pra ver", diz Francisco Alves Cavalcanti, 44, dono de um bar bem em frente à árvore que caiu no Corolla, na rua Maria Paula.

No edifício Copan, um dos acessos está bloqueado pela queda de duas árvores. "Parecia um mini-furacão", diz Breno, 23, funcionário de um restaurante no condomínio. Por volta das 19h, funcionários reparavam vidros quebrados no 28º andar do prédio. Na rua da Consolação, na altura do Mackenzie, também foi verificada a queda de uma árvore. No viaduto do Chá, a chuva causou a queda de uma estrutura de ferro e acrílico, utilizada em uma feira de artes, deixando quatro pessoas com ferimentos leves.

Em Higienópolis, a rua Dr. Veiga Filho está cheia de grandes galhos espalhados pela via. "Estava uma ventania e começou a desmoronar tudo em cima do carro", diz Patricia Tartari, 48, assessora de casamentos.

"Forcei a saída e consegui tirar o galho ao lado da porta. Nem pensei no perigo dos fios soltos. Os bombeiros não vieram porque disseram que não há vítimas", conta ela, que dirigia seu Renault Duster no momento em que a árvore veio abaixo. Ela não se feriu. O carro está debaixo da árvore e a Eletropaulo, embora acionada, até as 19h30 não havia enviado nenhum carro da companhia para o local.

Por volta das 19h40, a avenida Pacaembu estava completamente sem luz, com os semáforos apagados. O trânsito estava caótico na esquina com a avenida Auro Soares de Moura Andrade. Apesar de não haver congestionamento, os carros se arriscavam no cruzamento. Não havia fiscais da CET no local para o controle do tráfego. Foi verificada a falta de luz também nas ruas da Pompeia e de Perdizes.

ESTADO DE ATENÇÃO

Todas as regiões da cidade ficaram em estado de atenção para alagamentos das 17h13 (zonas oeste, leste, sudeste e centro –a zona sul e a marginal Pinheiros já estavam desde às 16h36 em estado de atenção) às 18h03.

A CET (Companhia de Engenharia de Tráfego) informa ainda que cerca de 30 semáforos estão inativos no momento. De acordo com a companhia, o trânsito ainda não apresenta sinais graves de impacto por conta da chuva. Foram registrados 66 quilômetros de congestionamento às 17h30, dentro da malha viária de 868 km da cidade. A média de trânsito nessa faixa de horário varia entre 47 km e 85 km. Às 19h, foi registrado 117 km de trânsito (a média vai de 75 km a 131 km) e, às 19h30, 111 km, com média de 68 km a 118 km no horário.

Segundo o Centro de Gerenciamento de Emergências da Prefeitura de SP (CGE), os ventos desta segunda atingiram 60 km/h e as chuvas são de rápido deslocamento. A tendência é de tempo chuvoso ainda na terça-feira (17), com baixas temperaturas. A mínima prevista é de 16ºC e a máxima, de 19ºC. O vento deve aumentar a sensação de frio.

O tempo melhora a partir de quarta-feira (18), mas as temperaturas devem seguir baixas, com mínima de 14ºC na madrugada.

PREVENÇÃO

Segundo a Secretaria de Coordenação das Subprefeituras, 13 equipes novas foram contratadas no Plano Intensivo de Manejo Arbóreo (Pima), instituído em agosto de 2015 com foco no período de chuvas. "Essas equipes reforçam as ações de poda e remoção de árvores em oito subprefeituras onde o problema é mais sensível (Sé, Pinheiros, Vila Mariana, Santo Amaro, Ipiranga, Butantã, Lapa e Mooca)", diz a secretaria, em nota.

Ainda de acordo com o órgão, 62% das quedas registradas nos últimos dois anos foram registrados nessas regiões. A nota informa que "o objetivo é reduzir riscos de acidentes graves provocados por queda de árvores" como os acidentes desta segunda.


Endereço da página:

Links no texto: