Folha de S. Paulo


Rio 'encosta' caveirões e helicópteros a três meses dos Jogos Olímpicos

Dos 12 helicópteros usados pelas polícias Militar e Civil no Estado do Rio, oito estão sem condições de voar, por falta de manutenção. Dos 21 blindados especiais, conhecidos como "Caveirões", apenas cinco funcionam.

A lista de equipamentos desativados inclui oito veículos importados da empresa sul-africana Paramount, modelo Maverick –uma espécie de versão compacta do Caveirão.

Yashuyoshi Chiba - 11.fev.2015/AFP
Helicóptero do Bope em simulação de sequestro de BRT, em 2015
Helicóptero do Bope em simulação de sequestro de BRT, em 2015

Esta é apenas uma parcial do estrago causado na segurança pública do Rio enquanto as ações criminosas se alastram pela cidade. No último fim de semana, trocas de tiros em vias expressas e favelas deixaram seis mortos e cinco feridos, entre eles um policial militar, assassinado no complexo do Alemão, e a jovem Ana Beatriz Frade, 17, atingida por um tiro dentro de um carro em um assalto perto da Linha Amarela (que faz a conexão entre Barra da Tijuca e o aeroporto internacional do Galeão).

Seria o momento de investir na política de segurança. Entretanto, o governo do Rio reduziu R$ 2 bilhões no orçamento inicialmente previsto em R$ 9 bilhões no ano de 2016. Diante do corte, houve a interrupção de vários contratos de manutenção, o que afetou diretamente a frota utilizada por policiais civis e militares.

A manutenção dos helicópteros estava sob a responsabilidade da Secretaria de Estado da Casa Civil que transferiu esta função para a Polícia Civil, mas sem incluir verba extra para esta finalidade.

Procurada pela Folha, a Casa Civil informou que o "orçamento será repassado quando o contrato atual acabar". A Secretaria de Segurança pediu ajuda ao governo federal de R$ 3 milhões, na sexta (6), para recuperar os helicópteros. Enquanto isso, as aeronaves seguem no chão, sem os reparos necessários para os voos.

VERBA ESPECIAL

Entre 2008 e 2010, o governo federal repassou, anualmente, cerca de R$ 300 milhões ao Rio para a compra de equipamentos e treinamento de policiais. O objetivo era investir na preparação para grandes eventos como Copa do Mundo e Olimpíada. Nesta época, o repasse a outros estados girava em torno de R$ 40 milhões por ano.

Parte da verba destinada ao Rio foi usada na compra dos blindados importados da África do Sul, que somou R$ 6,5 milhões. Durante o período de garantia (três anos), mecânicos estrangeiros tinham passagens pagas e hospedagens para o conserto dos veículos.

Com o fim deste prazo, os técnicos da empresa sul-africana foram embora e não houve verba para contratar novamente estes mesmos profissionais. Além disso, o governo não treinou brasileiros para que assumissem a manutenção dos blindados.

A crise também afetou tarefas ordinárias do setor. Para economizar munição, treinamentos de tiros para policiais civis foram suspensos.

Para minimizar os efeitos da crise nos índices de violência do Rio, o Juizado Especial Criminal da Barra da Tijuca (zona oeste), está trocando sentenças com prestação de serviços à comunidade por indenizações em dinheiro. Os valores arrecadados estão sendo direcionados para a compra de equipamentos para três delegacias do Rio.

Na quinta-feira (5), a Assembleia Legislativa do Rio (Alerj) doou R$ 3,5 milhões para a Polícia Militar retomar os cursos integrais de formação de PMs, que estavam funcionando apenas em meio expediente. Na ocasião, o secretário José Mariano Beltrame reclamou que precisa do orçamento para planejar os próximos três meses, até a Olimpíada.

"Não quero nada a mais ou a menos. Quero o que foi aprovado por essa casa e que me vem sendo dado de forma parcelada impedindo que eu consiga fazer esse planejamento", disse.


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