Folha de S. Paulo


Encontro de hip hop une culturas da zona leste e sul de São Paulo

Stefano Maccarini/Folhapress
Participante faz grafite durante o 10º Encontro de Cultura Hip Hop & Aliados, em São Paulo
Participante faz grafite durante o 10º Encontro de Cultura Hip Hop & Aliados, em São Paulo

Membros de movimentos culturais da periferia atravessaram a capital paulista no último sábado (7) para participar da décima edição do Encontro de Cultura Hip Hop & Aliados, no CDC Tide Setubal, no bairro São Miguel, na zona leste.

A novidade desta edição, que teve como tema o direito à cidade, foi o convite a grupos e coletivos da zona sul da cidade, que encararam a distância para participar do evento.

Alan Benelli, 35, MC e articulador cultural da zona sul, afirma que se interessou pelo tema do evento deste ano, pois considera o hip hop uma ferramenta política do processo de ter direito à cidade.

"De onde eu moro, no Jardim Ângela, eu demoraria duas horas e meia para chegar até aqui com transporte público", diz.

Para Queren Letícia Alves, 20, que participou de uma das intervenções poéticas declamando um poema sobre mães solteiras, virou costume enfrentar as dificuldades para chegar à zona leste.
"Venho bastante, porque minha vó mora aqui. Demoro quase três horas para chegar", diz a grafiteira da zona sul.

Do lado da zona leste, Lucas Afonso, 23, acha sempre rico encontrar "gente de outras quebradas". Afonso faz parte do coletivo Filhos de Ururaí que faz intervenções de poesia dentro dos trens da CPTM.
"Muitas vezes as realidades são parecidas, apesar das distâncias serem muito grandes", afirma ao comparar as periferias Sul e Leste.

Para o músico Pedro Henrique Rocha, 22, da banda Tamo Vivo, o encontro das comunidades ajuda a criar novas conexões. "Às vezes, o rap é muito dividido. O governo sempre quer separar a gente, já que unidos somos um problema."

O grafiteiro e produtor cultural Robson Juarez, conhecido como BO13, não vê a distância como algo que altere a linguagem dos estilos de desenho entre cada região da cidade. "Só é muito longe, mas o estilo muda de artista para artista. Não importa onde ele mora", afirma.

Já o DJ Elvis Leôncio dos Santos acha que a geografia afeta, em parte, as linguagens dos grupos, principalmente no uso de algumas gírias. "Muda pouco, mas as vivências são outras e as quebradas, diferentes."

O coordenador de projetos de Arteculturação da Fundação Tide Setubal, Inácio Pereira, diz que o objetivo do encontro é o desenvolvimento local e o fortalecimento das identidades. "O hip hop tem uma narrativa que diz respeito ao interesse coletivo dos territórios".

A programação trouxe os quatro elementos do hip hop (DJ, MC, grafite e o break), além de intervenções teatrais e saraus poéticos. Artistas e músicos de coletivos das duas zonas de São Paulo dividiram o espaço da programação, começando com a grafitagem dos muros pela manhã até as últimas apresentações pouco antes das 19h. Cerca de 50 pessoas estavam presentes.

No próximo sábado (14), será a vez da zona sul receber o evento, que ocorrerá das 10h às 19h, na Paróquia Santos Mártires (rua Luís Baldinato, 9, Jardim Ângela).

Os encontros fazem parte da preparação para o seminário internacional Cidades e Territórios: Fronteiras e Encontros na Busca pela Equidade, que ocorre em 14 de junho na Fecomercio. O evento é promovido pela Folha em parceria com a Fundação Tide Setubal. As inscrições são gratuitas e podem ser feitas no site Eventos Folha.


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