Folha de S. Paulo


Universidade busca 'bode expiatório' para crise, afirma ex-reitor da USP

Para o ex-reitor da USP João Grandino Rodas, 70, a atual gestão da universidade procura um bode expiatório para os problemas que enfrenta.

"É preciso pôr a culpa em alguém. Mas, no que depender de mim, não vão conseguir", afirma Rodas, por telefone, em entrevista à Folha.

É nesse contexto que o ex-reitor enxerga o processo administrativo instaurado no ano passado pelo atual chefe da USP, Marco Antonio Zago, contra sua administração.

Na semana passada, a Justiça deu razão a Rodas em um mandado de segurança e considerou nulo o procedimento que tentava cassar sua aposentadoria. No âmbito administrativo, a USP alegava que Rodas teria tomado medidas que causaram "lesão aos cofres públicos" em seu mandato, entre 2010 e 2014.

Ernani Coimbra - 16.jan.13/USP
João Grandino Rodas, ex-reitor da USP, em foto de janeiro de 2013
João Grandino Rodas, ex-reitor da USP, em foto de janeiro de 2013

O mandado de segurança tratava apenas de questões formais do processo administrativo, mas o ex-reitor tem uma série de críticas também aos fundamentos da disputa.

"Houve, sim, aumento de gasto com pessoal, como já acontecera na USP outras vezes, mas a sindicância não falava em dano nem em prejuízo, por exemplo. Aumento de gastos per se não é dano grave, mas é considerado como tal no processo, em que me responsabilizam unicamente, oferecendo as penas máximas. É um descompasso absoluto", afirma Rodas.

A sindicância indicou que ele desconsiderou opiniões técnicas e o Conselho Universitário (instância máxima da USP) ao adotar medidas que aumentaram despesas.

Entre 2009 e 2013 houve alta de 84% nos gastos com pessoal –de R$ 2,37 bilhões para R$ 4,35 bilhões. Já a elevação nos repasses do Estado, que sustentam a universidade, foi de 50,8%. A USP passou a gastar, só com folha de pagamento, mais do que recebe.

Para Rodas, se a atual gestão decidir mover novo processo administrativo contra ele, ou o fará "de forma absurda", ou terá de fazer nova sindicância.

"Antes disso, se a USP decidir seguir adiante, a primeira coisa que terá de fazer é enfrentar uma representação que entreguei em minhas alegações finais contra diversos dos atuais mandatários, que participaram de minha gestão", diz Rodas.

Para o ex-reitor, o processo "não tem lógica, mormente tratando-se de alguém com 45 anos de serviço na USP sem nenhum deslize".

"Não é meu caso em si que me preocupa, mas que isso venha de uma universidade que se jacta de ser uma das melhores da América Latina. Espero que gaste sua verba de quase R$ 5 bilhões/ano para algo mais útil."


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