Folha de S. Paulo


Vídeo registra cinco pessoas em ciclovia no momento do desabamento

Câmera de ônibus mostra momento da queda

Uma câmera instalada dentro de um ônibus registrou o exato momento em que a ciclovia da avenida Niemeyer foi atingida por uma onda e desabou no instante seguinte.

O acidente ocorreu nesta quinta-feira (21). De acordo com o horário registrado pelo vídeo, às 11h12, o veículo se aproximou do exato local do desastre. É possível ver três pessoas seguindo pela ciclovia em direção ao Leblon.

E vindo na direção contrária, a imagem gravada mostra mais duas pessoas. Elas são atingidas primeiro pela onda que sobe pela estrutura da ciclovia. Numa fração de segundos, a água toma conta de todo o trecho onde estavam as cinco pessoas. A água atinge inclusive o ônibus e tira a visibilidade da imagem da câmera por vários segundos. Neste segundo dia, a busca por vítimas mobilizou uma equipe de 40 homens do Corpo de Bombeiros.

Diante da possibilidade do corpo ter sido arrastado pela maré, um helicóptero de salvamento sobrevoa um perímetro que vai da praia de Copacabana até o Recreio, no outro extremo da orla carioca. Duas lanchas e dois motos aquáticas circulam em torno do costão rochoso da avenida Niemeyer, próximo ao ponto onde a ciclovia desabou. Uma embarcação da Marinha também auxilia nas buscas.

Mergulhadores do Corpo de Bombeiros estão à espera de uma chance para entrar no mar e vasculhar o trecho submerso da rocha. Só que o mar segue agitado o que impossibilitou o trabalho dos mergulhadores nesta manhã.

"O costão da Niemeyer tem muitas fendas. Existe a possibilidade de encontrar algo por lá", disse o coronel Marcelo Pinheiro, comandante das atividades de salvamentos marítimos do Corpo de Bombeiros.

VÍTIMAS CONFIRMADAS

Situada entre os bairros de Leblon e São Conrado, a ciclovia custou R$ 44,7 milhões e foi construída pela empreiteira Concremat ao lado da pista da Niemeyer, debruçada sobre um paredão rochoso.

Um dos mortos no desabamento foi o engenheiro Eduardo Marinho de Albuquerque, 54, morador de Ipanema, que saiu de casa pela manhã para correr pela orla e acabou lançado em direção ao mar quando a estrutura cedeu.

Após o resgate no mar, o helicóptero do Corpo de Bombeiros pousou na praia. Foi ali mesmo, nas areias de São Conrado, que a mulher de Albuquerque se ajoelhou e reconheceu o corpo do marido. O outro corpo resgatado foi o de Ronaldo Severino da Silva, 60.

Outros pedestres e ciclistas escaparam por pouco. "Não morri por quinze segundos", disse o consultor Guilherme Miranda, 42, que presenciou o acidente. Ele pedalava pela ciclovia da avenida Niemeyer em direção ao bairro do Leblon quando, ao olhar para trás, viu a pista desabar segundos depois de passar pelo local. "Vi três pessoas caindo em direção ao mar. Fiquei apavorado."

O corpo de Albuquerque será cremado em cerimônia neste sábado (23) no cemitério Memorial do Carmo, na zona portuária do Rio.

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Editoria de arte/Folhapress

OBRA SOB SUSPEITA

Com 3,9 quilômetros de extensão e inaugurada em janeiro passado, a ciclovia da Niemeyer fica em uma área conhecida pela incidência de ressacas, como a registrada nesta terça.

Pedro Paulo Carvalho, secretário-executivo de Coordenação de Governo, reconheceu que o projeto pode ter subestimado a força das ondas do mar naquele região. "A prefeitura vai analisar todos os projetos da obra, o projeto executivo, o cálculo estrutural que foi feito, levantar todas essas informações e averiguar se foi previsto [o impacto das ondas]. Pode ter sido subestimado o efeito da maré e das ondas que batem aqui no costão da Niemeyer".

Em nota, a Contemat e a Concrejato, empresas do grupo Concremat e responsáveis pela obra, informaram que vão "trabalhar incessantemente até que sejam conhecidas as causas do acidente". A GeoRio, empresa municipal responsável por coordenar obras de contenção de encostas, tinha a responsabilidade de fiscalizar todas as etapas do projeto, desde a planta original até a execução das obras.

Segundo relatos de testemunhas, ao ser atingida de baixo para cima por uma forte onda, a estrutura da ciclovia despencou.

TAMPA DE ISOPOR

"A onda levantou a ciclovia como se fosse a tampa de uma caixa de isopor", disse o aposentado Damião Pinheiro de Araújo, 60, que pescava perto do local do acidente.

Integrante do Crea-RJ, o engenheiro Antônio Eulálio menciona a possibilidade de o projeto não ter previsto o impacto da maré. "A onda deve ter batido por baixo e torcido a estrutura. Como os apoios da ponte estavam próximos, provavelmente, não foram capazes de combater essa rotação", disse o engenheiro.

Ciclovia que desabou foi inaugurada em janeiro


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