Folha de S. Paulo


Bombeiros retomam buscas por 3ª vítima de desabamento de ciclovia

O Corpo de Bombeiros do Rio retomou às 6h desta sexta-feira (22) as buscas por uma possível terceira vítima do desabamento de um trecho da nova ciclovia da avenida Niemeyer, na zona sul do Rio.

As equipes de resgate retiraram dois corpos do mar logo após o acidente que ocorreu em torno das 11h30 desta quinta-feira (21). E depoimentos de testemunhas indicam que mais uma pessoa caiu no momento em que a estrutura cedeu.

Quarenta homens da corporação participam da operação. Diante da possibilidade do corpo ter sido arrastado pela maré, um helicóptero de salvamento sobrevoa um perímetro que vai da praia de Copacabana até o Recreio, no outro extremo da orla carioca.

Duas lanchas e dois motos aquáticas circulam em torno do costão rochoso da avenida Niemeyer, próximo ao ponto onde a ciclovia desabou. Uma embarcação da Marinha também auxilia nas buscas.

Mergulhadores do Corpo de Bombeiros estão à espera de uma chance para entrar no mar e vasculhar o trecho submerso da rocha. Só que o mar segue agitado o que impossibilitou o trabalho dos mergulhadores nesta manhã.

"O costão da Niemeyer tem muitas fendas. Existe a possibilidade de encontrar algo por lá", disse o coronel Marcelo Pinheiro, comandante das atividades de salvamentos marítimos do Corpo de Bombeiros.

queda de ciclovia

Vídeo divulgado pela Ong Salvemos São Conrado nas redes sociais

VÍTIMAS CONFIRMADAS

Situada entre os bairros de Leblon e São Conrado, a ciclovia custou R$ 44,7 milhões e foi construída pela empreiteira Concremat ao lado da pista da Niemeyer, debruçada sobre um paredão rochoso.

Um dos mortos no desabamento foi o engenheiro Eduardo Marinho de Albuquerque, 54, morador de Ipanema, que saiu de casa pela manhã para correr pela orla e acabou lançado em direção ao mar quando a estrutura cedeu.

Após o resgate no mar, o helicóptero do Corpo de Bombeiros pousou na praia. Foi ali mesmo, nas areias de São Conrado, que a mulher de Albuquerque se ajoelhou e reconheceu o corpo do marido.

O outro corpo resgatado foi o de Ronaldo Severino da Silva, 60.

Outros pedestres e ciclistas escaparam por pouco. "Não morri por quinze segundos", disse o consultor Guilherme Miranda, 42, que presenciou o acidente. Ele pedalava pela ciclovia da avenida Niemeyer em direção ao bairro do Leblon quando, ao olhar para trás, viu a pista desabar segundos depois de passar pelo local. "Vi três pessoas caindo em direção ao mar. Fiquei apavorado."

Ciclovia que desabou foi inaugurada em janeiro

OBRA SOB SUSPEITA

Com 3,9 quilômetros de extensão e inaugurada em janeiro passado, a ciclovia da Niemeyer fica em uma área conhecida pela incidência de ressacas, como a registrada nesta terça.

Pedro Paulo Carvalho, secretário-executivo de Coordenação de Governo, reconheceu que o projeto pode ter subestimado a força das ondas do mar naquele região. "A prefeitura vai analisar todos os projetos da obra, o projeto executivo, o cálculo estrutural que foi feito, levantar todas essas informações e averiguar se foi previsto [o impacto das ondas]. Pode ter sido subestimado o efeito da maré e das ondas que batem aqui no costão da Niemeyer".

Em nota, a Contemat e a Concrejato, empresas do grupo Concremat e responsáveis pela obra, informaram que vão "trabalhar incessantemente até que sejam conhecidas as causas do acidente".

A GeoRio, empresa municipal responsável por coordenar obras de contenção de encostas, tinha a responsabilidade de fiscalizar todas as etapas do projeto, desde a planta original até a execução das obras.

Segundo relatos de testemunhas, ao ser atingida de baixo para cima por uma forte onda, a estrutura da ciclovia despencou.

TAMPA DE ISOPOR

"A onda levantou a ciclovia como se fosse a tampa de uma caixa de isopor", disse o aposentado Damião Pinheiro de Araújo, 60, que pescava perto do local do acidente.

Integrante do Crea-RJ, o engenheiro Antônio Eulálio menciona a possibilidade de o projeto não ter previsto o impacto da maré. "A onda deve ter batido por baixo e torcido a estrutura. Como os apoios da ponte estavam próximos, provavelmente, não foram capazes de combater essa rotação", disse o engenheiro.

Em nota, o prefeito Eduardo Paes lamentou o acidente na ciclovia. "É imperdoável o que aconteceu, já determinei a apuração imediata dos fatos e estou voltando para o Brasil para acompanhar de perto", disse o prefeito, que estava na Grécia e cancelou sua participação da cerimônia da tocha olímpica para voltar ao Rio.

AS NOVAS CICLOVIAS DO RIO - Rio amplia ciclovias na orla

Editoria de arte/Folhapress

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