Folha de S. Paulo


Aeroporto de Congonhas terá terminal ampliado e novo estacionamento

Uma concorrência pública a ser aberta no segundo semestre pela Infraero prevê reformar e ampliar o aeroporto de Congonhas, na zona sul de SP e o terceiro mais movimentado do país. As obras, segundo a previsão, seriam concluídas até 2018 ou 2019.

A principal intervenção será o aumento do terminal, dos atuais 64,5 mil m² para 100,8 mil m², o que ampliará em 46% a capacidade de abrigar passageiros –de 17,1 milhões para 25 milhões anuais.

Marlene Bergamo/Folhapress
Passageira no aeroporto de Congonhas, onde plano da Infraero prevê reforma até 2019
Passageira no aeroporto de Congonhas, onde plano da Infraero prevê reforma até 2019

A medida, quando concluída, jogará pressão para aumentar os voos no aeroporto.

Haverá, ainda, dez novas pontes de embarque; hoje são 12. As pontes ligam o terminal aos aviões e reduzem o inconveniente dos passageiros.

Atualmente, boa parte das aeronaves em Congonhas estaciona em posições chamadas de "remotas" –nas quais o avião fica parado em pátio afastado do terminal ao lado da pista, e ônibus são usados para embarque e desembarque das pessoas.

Outra medida prevista é a exploração de duas áreas ociosas do aeroporto, hoje usadas como estacionamento de táxis. Em uma delas, seria construído um novo edifício-garagem com ao menos 3.000 vagas. O atual espaço tem 2.554 vagas.

Ao lado, estão reservados 10,7 mil m² para um empreendimento comercial –um hotel, um centro empresarial ou shopping; a decisão ficará a cargo do vencedor dessa concorrência pública.

A ampliação de Congonhas mais recente foi feita em 2006.

Folhapress

SOLUÇÃO

Em situação financeira crítica desde que o governo federal concedeu os aeroportos mais lucrativos do país à iniciativa privada, a Infraero não tem condição de bancar as obras –no ano passado, por exemplo,o prejuízo da estatal foi de R$ 3 bilhões.

Agora, a empresa pretende obter o dinheiro para a reformulação de Congonhas concedendo à iniciativa privada apenas a área comercial do aeroporto, mesmo modelo que pretende adotar no Santos Dumont, do Rio.

A vencedora, assim, ficaria com as receitas comerciais por 25 anos e, em troca, faria as obras no local.

A partir da assinatura do contrato, a empresa terá um ano para obter as licenças da obra e outro para executá-la –como, segundo a Infraero, a concorrência pública deve ser lançada em julho ou agosto, a conclusão ficaria para daqui pouco mais de dois anos.

A empresa espera arrecadar R$ 3,5 bilhões durante esse período com parte do lucro obtido pelo futuro administrador, segundo André Luís Marques de Barros, diretor comercial da Infraero.

A previsão é elevar as receitas comerciais da empresa, na comparação com as atuais, em 50% a 70%.

Em cenário de recessão, a empresa aposta que conseguirá atrair investidores pela importância de Congonhas –principal aeroporto executivo do país, abriga a ponte aérea para o Santos Dumont (Rio), a rota mais movimentada do Brasil.

Em apresentações prévias a potenciais interessados, o projeto foi bem recebido, disse o diretor da Infraero.

INTERESSADOS

Segundo a estatal, entre os interessados estão administradores de shopping center, concessionários de aeroportos e fundos de investimento. Empreiteiras poderão participar desde que comprovem experiência com gestão de áreas brutas locáveis –como centros comerciais.

O projeto piloto para essa iniciativa aconteceu em Goiânia. Em janeiro, a empresa Socicam se comprometeu a pagar R$ 97,6 milhões para gerir a área comercial do aeroporto da cidade por 11 anos, também em troca de obras de expansão.

PRESSÃO

A decisão de expandir o terminal de passageiros de Congonhas jogará pressão sobre a limitação ao número de voos do aeroporto, em vigor desde o acidente com um Airbus da TAM em 2007.

O aeroporto tem capacidade para abrigar 41 voos por hora, segundo a Aeronáutica. Na prática, esse número não costuma ser atingido –de 32 a 33 voos são da aviação regular (TAM, Gol, Azul e Avianca). O restante é destinado à aviação geral e executiva.

Até o desastre de nove anos atrás, que matou 199 pessoas, Congonhas tinha 48 pousos ou decolagens por hora.

Mas, desde então, uma das duas pistas deixou de ser usada pela aviação regular, o que acabou reduzindo a capacidade do aeroporto.

Questionada sobre os planos da Infraero, a Aeronáutica diz não haver previsão de aumentar a capacidade da pista. A ampliação do aeroporto, porém, abre espaço para pressão nesse sentido, pois as companhias aéreas sempre tiveram interesse em operar em mais voos ali.

"Não há dúvidas de que a atenção dos investidores do negócio estará diretamente relacionada à possibilidade de aumento deste número", diz Érico Santana, consultor em negócios aeroportuários. "Elevando-se o número de operações [pousos e decolagens], o número de passageiros e a receita comercial aumentam", afirma.

Para ele, outra maneira de tornar o investimento no aeroporto mais atrativo para o setor privado seria o retorno dos voos internacionais.

A Infraero, porém, diz que a medida não está nos planos da estatal neste momento.

Os novos planos para Congonhas deixam reticentes moradores do entorno, como os que integram a Amam (Associação dos Moradores e Amigos de Moema).

"A Amam não quer de maneira alguma o fechamento de Congonhas, mas crê que qualquer ampliação no número de passageiros deve levar em conta o princípio básico que norteia todo aeroporto: a segurança de quem voa e de quem é vizinho", afirma José Roosevelt Júnior, presidente da entidade.

Também é preciso levar em conta estudos de impacto de vizinhança e ambiental e a criação de mecanismos para reduzir o ruído nos bairros do entorno de Congonhas, diz.

Outro empecilho tem relação com o patrimônio histórico. Congonhas é tombado pelo Conpresp, órgão municipal que regula o setor. Qualquer intervenção deve ser submetida ao conselho.


Endereço da página: