Folha de S. Paulo


Mãe apela a 'consulta dupla' para que criança sem pediatra seja atendida

Com o filho de nove meses no colo, a atendente Jéssica Baio Salvador, 23, ouviu de uma funcionária do pronto-socorro Julio Tupy, no extremo da zona leste de São Paulo, que não havia pediatras na terça-feira (5).

Preocupada com a tosse e a falta de ar do bebê Isaac Henrique, ela não quis esperar o dia seguinte e entrou na fila para uma consulta com o clínico-geral. Mas para ela.

Alegando estar doente, disse que aproveitaria o mesmo médico para examinar o filho. "Falaram para mim que não tem mais pediatra, só amanhã, às 7h. Mas ele está tossindo demais. Não consigo vir durante o dia porque eu trabalho", disse Jéssica.

Outros pais e mães disseram à reportagem que a falta de pediatras no Julio Tupy tem sido frequente. Após as 17h de terça, as famílias não conseguiam mais atendimento.

Antes disso, havia profissionais, porém os médicos não davam conta de atender tantas crianças na recepção.

Para conseguir atendimento no fim da tarde, a dona de casa Lidiane Barbosa, 20, esperou quase cinco horas com o filho Richard, 2. Ela havia chegado ao local por volta do meio-dia.

Lidiane diz que já havia tentado atendimento no dia anterior, mas foi informada de que não havia pediatras. "É o segundo dia que a gente vem aqui. Ele está com diarreia, vômito e um pouco de febre. Deram soro, e o médico disse que ele terá que tomar mais", disse o marido dela, Leandro Gonzaga, 29.

No Hospital Waldomiro de Paula, em Itaquera (zona leste), não havia pediatras às 18h de terça. Os especialistas disponíveis atendiam na AMA (Assistência Médica Ambulatorial) ao lado, lotada.

H1N1

OUTRO LADO

A prefeitura informou que a AMA contou com quatro clínicos e dois pediatras entre as 7h e as 19h de segunda, que atenderam 397 pacientes. Na terça-feira (5), havia também quatro clínicos e dois pediatras no mesmo horário, que fizeram 318 atendimentos.

Já o PS Julio Tupi teve no dia 5 dois médicos de plantão, que realizaram 237 atendimentos.

"Nos casos mais graves e na ausência do médico pediatra, a equipe da unidade realiza o acolhimento das crianças, por meio da classificação de risco, acionando o clínico de plantão para realizar os primeiros atendimentos e, se necessário, realiza a transferência para o hospital", diz nota.

A prefeitura diz que, na área do Julio Tupy, há também equipes de Saúde da Família disponíveis.

Nos últimos anos, o país tem registrado falta de profissionais de pediatria. Para reverter o problema, universidades estão mudando o perfil de formação, dando mais ênfase a questões sociais e doenças crônicas e mentais.

A gestão Haddad estuda duplicar equipes de pediatras que atuam nas AMAs para dar fim à sobrecarga.


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