Partes da entrevista com a secretária do Programa Hidrológico Internacional, Blanca Jiménez, publicada no dia 26 de março na Folha, não constavam das respostas dadas originalmente por ela. Há trechos plagiados e frases reformuladas ou tiradas de contexto.
O texto "Crise da água só terá fim se houver gestão correta" é assinado pelo jornalista Robson Rodrigues, até então colaborador eventual do jornal, que nega o plágio.
| Augusto Coelho/Ascom do MCTI | ||
 |
||
| Blanca Jiménez durante reunião na sede do Ministério da Ciência e Tecnologia, em Brasília |
Segundo a versão publicada em março, em resposta a uma pergunta sobre a crise da água no Estado de SP, a especialista teria dito que essa e outras crises só irão terminar quando houver uma gestão correta dos recursos hídricos.
Questionada sobre as suas declarações pelo governo do Estado de São Paulo, Jiménez afirmou que em nenhum momento tratou sobre o caso específico de São Paulo. A especialista reafirmou isso à Folha. "A entrevista publicada atribui erradamente a mim partes significativas que não refletem minha posição e não são de minha autoria", afirmou Jiménez.
O jornalista responsável pela entrevista afirma que juntou declarações que a especialista teria dado a ele e a outros veículos de imprensa em um evento em setembro do ano passado no Paraná –o jornalista, porém, não apresentou gravações ou anotações que comprovem isso.
Segundo a assessoria da executiva, ela também não tratou da crise paulista nessas entrevistas no ano passado. O governo do Estado divulgou nesta quarta (6) nota de esclarecimento em que afirma haver "fortes indícios de fraude em entrevista publicada pelo jornal Folha de S.Paulo".
"Após nove dias de rigorosa apuração (...), constatamos haver fortes indícios de falsidade ideológica, falsidade material e plágio" na entrevista, diz o comunicado, assinado pela subsecretaria de Comunicação. A Folha soube das acusações inicialmente por meio do governo.
Blanca Jiménez, mexicana, acumula os cargos de secretária do Programa Hidrológico Internacional, diretora da Divisão da Ciência da Água da Unesco, vice-presidente da ONU-Água e membro do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC).
Na entrevista deturpada, há ainda duas perguntas e respostas com trechos exatamente iguais aos de entrevista com ela publicada em 2014 pelo jornal "O Estado de S. Paulo".
Procurado, Robson Rodrigues diz que não "inventou nem copiou nada" e que seu erro foi ter unido duas entrevistas. "Assumo a responsabilidade por tudo o que escrevi na entrevista", afirmou.
A Folha não aceitará mais colaborações deste jornalista.
ÍNTEGRA DA NOTA
Nota de esclarecimento sobre fortes indícios de fraude em entrevista publicada pelo jornal Folha de S.Paulo.
Após nove dias de rigorosa apuração pelo Governo do Estado de São Paulo, constatamos haver fortes indícios de falsidade ideológica, falsidade material e plágio em entrevista concedida por Blanca Jiménez, especialista da ONU e secretária do Programa Hidrológico Internacional da Unesco, publicada pelo jornal Folha de S.Paulo em 26 de março de 2016.
O texto publicado pela Folha de S.Paulo copiou diversos trechos de entrevista concedida pela mesma Blanca Jiménez a outro veículo de imprensa, o jornal O Estado de S. Paulo, em 4 de novembro de 2014.
E o mais grave: também foram inseridas na entrevista frases nunca ditas pela entrevistada, assim como referências nunca feitas por ela à gestão hídrica do Governo do Estado de São Paulo. Frases ainda foram plagiadas fora do contexto, tornando suas observações incompreensíveis ou tecnicamente equivocadas.
Da entrevista original publicada pelo Estado de S.Paulo, 351 palavras (ou 72% de um total de 483 palavras) foram reproduzidas nas páginas da Folha, um ano e quatro meses depois. Não apenas respostas, mas até perguntas foram plagiadas.
Ademais, não há uma única confirmação de que as frases que embasaram o título, a abertura do texto e a chamada na capa do jornal da matéria "Crise da água só terá fim com gestão correta, diz gestora do setor na ONU" tenham jamais sido ditas pela entrevistada –como a própria Blanca Jiménez afirmou, em carta oficial da ONU, datada de 31 de março e enviada ao jornal.
Frases da entrevistada foram adulteradas para forjarem uma crítica jornalística.
O Governo do Estado achou por bem proceder à divulgação pública dos fatos apurados até o momento porque outros veículos de imprensa reproduziram de boa-fé o conteúdo da entrevista. A apuração dos fatos continua.