Folha de S. Paulo


Novo plano poderia ter evitado parte das mortes, diz presidente da Samarco

O presidente da Samarco, Roberto Carvalho, disse que se um plano emergencial como o que foi elaborado pela mineradora após o rompimento da barragem de Fundão, em Mariana (MG), estivesse pronto antes da tragédia "poderia ajudar" a evitar parte das mortes no subdistrito de Bento Rodrigues, o mais afetado pela lama. A declaração foi dada nesta terça-feira (5), em Belo Horizonte.

Bento Rodrigues foi encoberto pelos rejeitos de lama de mineração que vazaram da barragem no último dia 5 de novembro, na maior tragédia ambiental do Brasil, que deixou 19 mortos e um rastro de destruição que alcançou o litoral do Espírito Santo.

Claudio Belli/Valor/Folhapress
Data: 02/02/2016 Editoria: Empresas Reporter: Marta Bonaldo Local: Sao Paulo Setor: mineracao Pauta: presidente da Samarco Personagem: Roberto Carvalho, presidente da Samarco Tags: mineracao, mineradora, desastre, ecologia, meio-ambiente, ambiente, Mariana, novo presidente Fotos: Claudio Belli/Valor ***FOTO DE USO EXCLUSIVO FOLHAPRESS***
Roberto Carvalho, novo presidente da mineradora Samarco

Em apresentação à imprensa das ações realizadas pela empresa nos cinco meses após o incidente, Carvalho afirmou que o novo plano de emergência da mineradora incluiu a instalação de sirenes nas comunidades afetadas e que há simulações de situação de emergência nesses locais.

Questionado se o novo plano poderia evitar as 19 mortes, ele disse que "seria muito difícil, mesmo com o plano, evitar as mortes de 14 pessoas que estavam trabalhando na barragem".

"Das cinco que estavam em Bento Rodrigues, tivemos pessoas que voltaram [aos locais soterrados], pessoas que não saíram [de casa]. É difícil responder a essa pergunta claramente, mas sem dúvida nenhuma [o novo plano] poderia ajudar."

Como revelado pela Folha, o plano que existia na ocasião do rompimento ignorava o alerta a moradores. O documento é um dos subsídios usados pela Polícia Civil para indiciar sete pessoas sob suspeita de homicídio. O presidente diz que ele "foi estabelecido de acordo com as normas vigentes".

Um dos indiciados é o ex-presidente da Samarco Ricardo Vescovi, que pediu afastamento da empresa em 20 de janeiro para trabalhar em sua defesa. Carvalho assumiu o posto.

A empresa ainda tenta evitar que o rio Doce receba rejeitos de lama de córregos que passam próximos a Fundão, mesmo com os diques de contenção que foram construídos. Uma das obras que deverá ser feita é a ampliação de um desses diques e também uma espécie de barreira na área da barragem.

Outra ação recente, feita após acordo com o Ministério Público de Minas Gerais, é a retirada da lama que ficou retida na Usina Hidrelétrica Risoleta Neves (Candonga), a 100 km de distância da barragem que se rompeu.

De acordo com a Samarco, 550 mil metros cúbicos de lama devem ser dragados até o final do ano e serão depositados em área próxima à usina. Carvalho sugere construir um "parque" no local.

O presidente da mineradora disse também que espera que o acordo fechado com a União e os governos de Minas Gerais e do Espírito Santo seja homologado pela Justiça mesmo sem a anuência do Ministério Público Federal, para dar celeridade ao processo.

Pelo acordo, a mineradora deve gastar R$ 4,4 bilhões nos próximos três anos, sendo R$ 2 bilhões já este ano.

VOLTA À OPERAÇÃO

A empresa afirma que já tem condições de retornar a operar a partir do quarto trimestre deste ano, com dois terços da capacidade anterior ao incidente. As atividades da empresa em Minas Gerais estão suspensas desde novembro.

Para retomar as atividades, a Samarco, que pertence à Vale e à BHP Billiton, ainda depende de autorização da Secretaria de Meio Ambiente do Estado.

Em vez da barragem, seriam utilizadas duas cavas de mineração -buracos abertos após a retirada de minério- para jogar os rejeitos por dois ou três anos, enquanto a empresa estudaria soluções futuras para o depósito da lama.


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