O presidente da Samarco, Roberto Carvalho, disse que se um plano emergencial como o que foi elaborado pela mineradora após o rompimento da barragem de Fundão, em Mariana (MG), estivesse pronto antes da tragédia "poderia ajudar" a evitar parte das mortes no subdistrito de Bento Rodrigues, o mais afetado pela lama. A declaração foi dada nesta terça-feira (5), em Belo Horizonte.
Bento Rodrigues foi encoberto pelos rejeitos de lama de mineração que vazaram da barragem no último dia 5 de novembro, na maior tragédia ambiental do Brasil, que deixou 19 mortos e um rastro de destruição que alcançou o litoral do Espírito Santo.
Claudio Belli/Valor/Folhapress | ||
Roberto Carvalho, novo presidente da mineradora Samarco |
Em apresentação à imprensa das ações realizadas pela empresa nos cinco meses após o incidente, Carvalho afirmou que o novo plano de emergência da mineradora incluiu a instalação de sirenes nas comunidades afetadas e que há simulações de situação de emergência nesses locais.
Questionado se o novo plano poderia evitar as 19 mortes, ele disse que "seria muito difícil, mesmo com o plano, evitar as mortes de 14 pessoas que estavam trabalhando na barragem".
"Das cinco que estavam em Bento Rodrigues, tivemos pessoas que voltaram [aos locais soterrados], pessoas que não saíram [de casa]. É difícil responder a essa pergunta claramente, mas sem dúvida nenhuma [o novo plano] poderia ajudar."
Como revelado pela Folha, o plano que existia na ocasião do rompimento ignorava o alerta a moradores. O documento é um dos subsídios usados pela Polícia Civil para indiciar sete pessoas sob suspeita de homicídio. O presidente diz que ele "foi estabelecido de acordo com as normas vigentes".
Um dos indiciados é o ex-presidente da Samarco Ricardo Vescovi, que pediu afastamento da empresa em 20 de janeiro para trabalhar em sua defesa. Carvalho assumiu o posto.
A empresa ainda tenta evitar que o rio Doce receba rejeitos de lama de córregos que passam próximos a Fundão, mesmo com os diques de contenção que foram construídos. Uma das obras que deverá ser feita é a ampliação de um desses diques e também uma espécie de barreira na área da barragem.
Outra ação recente, feita após acordo com o Ministério Público de Minas Gerais, é a retirada da lama que ficou retida na Usina Hidrelétrica Risoleta Neves (Candonga), a 100 km de distância da barragem que se rompeu.
De acordo com a Samarco, 550 mil metros cúbicos de lama devem ser dragados até o final do ano e serão depositados em área próxima à usina. Carvalho sugere construir um "parque" no local.
O presidente da mineradora disse também que espera que o acordo fechado com a União e os governos de Minas Gerais e do Espírito Santo seja homologado pela Justiça mesmo sem a anuência do Ministério Público Federal, para dar celeridade ao processo.
Pelo acordo, a mineradora deve gastar R$ 4,4 bilhões nos próximos três anos, sendo R$ 2 bilhões já este ano.
VOLTA À OPERAÇÃO
A empresa afirma que já tem condições de retornar a operar a partir do quarto trimestre deste ano, com dois terços da capacidade anterior ao incidente. As atividades da empresa em Minas Gerais estão suspensas desde novembro.
Para retomar as atividades, a Samarco, que pertence à Vale e à BHP Billiton, ainda depende de autorização da Secretaria de Meio Ambiente do Estado.
Em vez da barragem, seriam utilizadas duas cavas de mineração -buracos abertos após a retirada de minério- para jogar os rejeitos por dois ou três anos, enquanto a empresa estudaria soluções futuras para o depósito da lama.