Folha de S. Paulo


Palmas proíbe discussão sobre ideologia de gênero em sala de aula

Professores da rede municipal de Palmas estão proibidos de discutir ou usar qualquer material didático sobre a ideologia de gênero nas salas de aula. A proibição inclui até os livros distribuídos pelo MEC.

O prefeito Carlos Amastha (PSB) decretou medida provisória, publicada no último dia 14, vedando "a discussão e a utilização de material didático e paradidático sobre a ideologia ou teoria de gênero, inclusive promoção e condutas, permissão de atos e comportamentos que induzam à referida temática, bem como os assuntos ligados à sexualidade e erotização".

A decisão ocorreu após o envio de livros didáticos, para alunos do primeiro ano do ensino fundamental, que abordam as diferentes possibilidades de família.

"A decisão vai contra a autonomia didática do professor", afirma Joelson Pereira dos Santos, presidente do Sindicato dos Trabalhadores em Educação de Palmas.

A prefeitura afirma que, como o Congresso excluiu a discussão da questão de gênero no PNE (Plano Nacional de Educação), foi dada autonomia para Estados e Municípios "promoverem seus debates e respeitar a opinião dos pais sobre a educação moral de seus filhos sobre o assunto."

A Secretaria de Educação afirmou que os livros de ciências humanas e da natureza enviados pelo MEC não serão devolvidos, mas usados "conforme orientação da medida provisória".

Santos, que também é orientador educacional, afirma que o desafio hoje é fazer com os pais se envolvam em questões básicas do processo de ensino e aprendizagem. Colocá-los com a responsabilidade integral de trabalhar a formação moral das crianças, que é a justificava do decreto do prefeito, é impraticável.

"A gente sabe que as crianças criadas por mãe solteira, principalmente, são bastante discriminadas. Esse decreto vai dar respaldo a esse tipo de atitude, uma vez que escola não vai poder esclarecer essas realidades."

Para Karoline Soares Chaves, da comissão de diversidade sexual da OAB/Tocantins, a medida provisória não deixa claro como os professores irão trabalhar o ensino de educação sexual nas escolas.

Segundo Karoline, a educação sexual é uma temática tratada de forma transversal em diversas disciplinas escolares. "Com a medida, o profissional fica temeroso de falar sobre gênero de modo geral", diz.

CONTRAPONTO

Na cidade, porém, muita gente apoiou a decisão do prefeito. Um dos apoiadores da medida é o pastor João Campos, vereador pelo PSC.

"Esse ensinamento é pertinente à família, ela é uma instituição importante dentro de qualquer sociedade. O MEC distribuir esse material não é adequado. Os princípios da moralidade devem ser abordados pelos pais. A escola se fundamenta em ensinar matérias como matemática, português", afirma Campos.

A Defensoria Pública do Tocantins e a OAB afirmam que vão questionar o prefeito sobre a decisão.


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