Folha de S. Paulo


Surto de gripe leva colégios de SP a mudar rotina e reforçar higiene

Na escola infantil Carinha Suja, o importante agora é lavar as mãos várias vezes por dia. Quanto mais, melhor, ensinam as professoras. As crianças de até cinco anos têm aulas de como usar o sabonete, além de limpar as unhas e entre os dedos.

Como essa escola, que fica em Santa Cecília (centro de São Paulo), outros colégios particulares da capital mudaram a rotina nas últimas semanas para tentar evitar que o vírus da gripe H1N1 se propague entre seus estudantes.

O surto da doença ocorreu dois meses antes do previsto e já resultou em 45 mortes neste ano no país –38 delas no Estado de São Paulo. A quantidade de infectados até agora já supera a de 2015 inteiro.

"Agora, com a gripe, a gente tem lavado as mãos das crianças mais vezes por dia", conta Regina Tacla, 56, proprietária e diretora da escola Carinha Suja. Nos banheiros, o colégio colocou plaquinhas com dicas de higiene. Regina também lista outras ações: mais faxinas diárias e álcool em gel na entrada do prédio. "Limpe suas mãos ao entrar", diz uma placa.

Outros colégios enviaram e-mails para os pais, explicando os sintomas e medidas a serem tomadas caso um aluno apresente um deles. "Claro que os pais já estão ligados nisso [gripe H1N1], mas nós reforçamos. Em caso de algum sintoma, não traga seu filho para a escola", explica Marisa Monteiro, diretora da escola Ofélia Fonseca, que tem 400 estudantes do ensino infantil ao médio.

O colégio já teve três casos de gripe H1N1 em duas semanas –um aluno está afastado. Com o avanço da doença, os professores foram orientados a prestar atenção em qualquer um dos sintomas. O colégio Itatiaia, com oito unidades na capital, enviou um comunicado aos pais pedindo que eles procurem pediatras e, se possível, vacinem seus filhos.

Nesta semana, houve uma grande procura por vacinas contra a H1N1. Hospitais como Albert Einstein e Pro Matre tiveram filas de até três horas por doses do tipo tetravalente, que imuniza contra quatro tipos de vírus influenza.

A partir do dia 11, a rede pública fará uma vacinação contra grupos de risco –gestantes, crianças e idosos. No entanto, será disponibilizado apenas o tipo trivalente, contra três tipos de vírus.

MÃO NA BOCA

Em Higienópolis, a escolinha Coruja mandou avisos aos pais depois que uma criança pegou a gripe aguda. "Copiei os sintomas do site do Drauzio Varella e mandei", diz a diretora Ana Maria Rosa, 60. Ela conta que não tomou outras medidas porque o colégio já está preparado desde 2009, quando houve um surto de H1N1. "Desde aquela época, já temos álcool em gel em vários pontos e já orientamos professores."

Além dos avisos por e-mail, o colégio Mackenzie resolveu, nesta semana, desligar o ar-condicionado de uma de suas unidades, em Alphaville. As janelas da escola foram abertas para "maior circulação de ar", segundo o colégio. Abrir as janelas é uma medida importante, segundo o médico Celso Granato, livre-docente em infectologia da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo).

"Em ambientes arejados, a tendência é que o vírus tenha mais dificuldade em se propagar", explica. "Quando as crianças ficam em um lugar fechado, com ar-condicionado, ele circula mais fácil." "Lavar mais as mãos e usar lenços são ações que ajudam a prevenir o contágio, mas entendo a dificuldade em convencer crianças a fazer isso toda hora", diz Granato.

Regina Tacla, da escola Carinha Suja, concorda. "Você tenta diminuir as chances, mas não pode virar uma paranoia. Como você vai explicar para crianças de dois anos que elas não podem colocar a mão na boca?"


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