Folha de S. Paulo


Após surto de gripe, pais não acham pediatras na periferia de SP; veja vídeo

Peregrinação pelos PS's de São Paulo

Em meio a um surto de dengue e suspeitas de gripe H1N1 em crianças, pais têm feito peregrinação em busca de pediatras na periferia de São Paulo.

Quando não se deparam com a falta desses profissionais, crianças enfrentaram filas de até duas horas somente para preencher uma ficha e entrar numa fila para serem atendidos pelos únicos dois médicos que se revezam no atendimento.

Para ficar frente a frente com o especialista, são quase cinco horas de espera.

A Folha constatou neste sábado (26) que não havia pediatras em unidades municipais nos bairros de Itaquera e Cidade Tiradentes, na zona leste.

Em Itaquera, faltaram especialistas no atendimento infantil no hospital Municipal Waldomiro de Paula, conhecido como Planalto, e na AMA (Assistência Médica Ambulatorial) de mesmo nome durante o dia todo.

A orientação vinda dos funcionários era para que tentassem no também municipal Tide Setúbal, em São Miguel Paulista. Porém, pais entrevistados pela reportagem disseram que lá a informação era de que não havia também.

"Não tem pediatra desde cedo. Minha filha está aqui vomitando e com febre e é o segundo hospital para onde vou e não tem médico para ela", disse o auxiliar de limpeza Acácio Flávio do Nascimento, 28, morador de Guaianases que levou a filha Nataly, 8, ao Planalto. A previsão era que às 19h haveria um pediatra. Porém, até as 20h, não tinha.

SENHA

Em Cidade Tiradentes, também não havia especialistas no PA (pronto-atendimento) Glória e na AMA (Assistência Médica Ambulatorial) Castro Alves.

Os dois pediatras disponíveis no bairro atendiam no Hospital Municipal de Cidade Tiradentes.

No entanto, alguns pais disseram que, por volta das 17h30, diante de tamanha lotação, funcionários alertavam que não havia mais disponibilidade de senhas de atendimento.

"Cheguei às 13h30 e só consegui preencher a ficha às 15h30. São 17h e ainda não passamos pelo pedriatra", Alessandra da Silva Rodrigues, 32, que levou os filhos Bruno, 8, e Bianca, 3.

"A moça da recepção me disse que se tiver que internar não será aqui porque está superlotado. Os dois estão com febre, dor no corpo e vomitando. Estou com medo dessa gripe e de dengue também ", disse.

Muitas recorreram ao bairro vizinho, Guaianases, cujo hospital geral, do Estado, estava abarrotado de gente também. Só havia dois pediatras ali. Mais horas na fila.

OUTRO LADO

A gestão Fernando Haddad (PT) nega a falta de médicos e diz que, nesta época do ano, a demanda cresce muito em decorrência de doenças respiratórias.

A Secretaria Municipal de Saúde Informou em nota que os hospitais Waldomiro de Paula, Tide Setúbal e Cidade Tiradentes contavam, respectivamente, com um, três e quatro pediatras no plantão do dia, sendo que este último atendeu a 534 pacientes na especialidade só no sábado.

A pasta informou que nesta semana convocará uma reunião com as organizações sociais de saúde (OSs) responsáveis pela administração das unidades para discutir a contratação e manutenção do quadro clínico. As OSs são a SPDM e a Santa Marcelina.

A prefeitura diz que já realizou concurso público para contratação de médicos pediatras e que há um novo concurso em andamento para a contratação de mais profissionais.

"É importante ressaltar também que há dificuldades de alocar esses profissionais em unidades fora da região central da capital, o que dificulta o atendimento. A secretaria está empenhada em minimizar os problemas o mais rápido possível", diz o texto.

A administração diz também que a espera varia de acordo com a demanda e que pacientes em situação mais grave têm prioridade.

Já a administração Geraldo Alckmin (PSDB) diz que o quadro de profissionais do Hospital Geral de Guaianases estava completo, incluindo dois pediatras, neste sábado.

Segundo a Secretaria de Estado da Saúde, a falta desses médicos na rede municipal culminou numa crescente demanda pela especialidade de pediatria no pronto-socorro da unidade.

"80% dos casos atendidos no pronto-socorro são de baixa complexidade, que deveriam ser absorvidos pelas AMAs e hospitais municipais, conforme diretriz do SUS (Sistema Único de Saúde). Vale ressaltar que o hospital prioriza casos graves e gravíssimos", diz nota.


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