Folha de S. Paulo


Crianças e idosos se unem e criam 'fábrica de chocolates' em São Paulo

Doze crianças de um centro de educação infantil público de São Paulo tiveram uma experiência de Páscoa diferente e emotiva neste ano. Em uma oficina de guloseimas, elas se encontraram, interagiram e aprenderam dicas de culinária e convivência com idosos de um dos residenciais mais exclusivos da cidade.

A iniciativa foi pensada para levar benefícios e alegria aos dois grupos e passou por fases de preparação com educadores, terapeutas ocupacionais e nutricionistas.

"Para o idoso, trouxemos a energia e a motivação das crianças. A ideia era oferecer a eles uma experiência que remetesse a um momento familiar. Os meninos recebem carinho e aprendem sobre diversidade com os mais velho", diz a terapeuta ocupacional Ana Lúcia Alves, do Residencial Sant'Anna.

Todos os participantes usaram lenços quadriculados na cabeça, os mais novos da cor azul e os mais velhos cor de rosa, e pareciam compenetrados na atividade que misturava chocolate, espinafre, cenouras, açúcar e afeto.

"O cardápio tinha de ter chocolate, mas também tinha de ter alimentos que as crianças não aceitam tão bem no dia a dia. Assim, elas vão ligar o espinafre colocado na massa do cupcake que elas mesmos fizeram, a um dia alegre, de festa", diz a nutricionista Bruna Nogueira.

A engenheira civil aposentada Evelina Bloem Souto, 89, uma das participantes da oficina, afirma que "adorou a experiência". "Foi um clima muito gostoso. Me trouxe a lembrança de meus quatro netos e quatro bisnetos."
Já o garoto Miguel Silva, 2, aprovou os doces. "Fiz brigadeiro e bolo com aquela vovó ali", aponta ele para Antonina Vaz Guimarães, 89, uma das mais compenetradas na atividade recreativa.

AULA DE INTEGRAÇÃO

Segundo Patrícia Nunes, coordenadora do centro educacional das crianças, a proposta do evento não era apenas uma comemoração ou uma aula de culinária, mas uma "aula de integração".

"Antes de virem, os professores trabalharam com eles atividades sobre as diferenças entre as pessoas. A troca que acontece neste momento é a concretização do que foi discutido com eles."

Embora a diferença social entre os idosos, que pagam mensalidades de R$ 15 mil para viverem no residencial, e as crianças seja marcante, os organizadores da oficina afirmam que isso não é uma questão levantada.

"Muitos idosos aqui tiveram vidas profissionais marcantes, fizeram ações importantes para o país e são de famílias com grande poder aquisitivo. Mas, aqui dentro, não há conflito social nenhum. É a criança e o vovô com toda troca de carinho possível", diz Vera Crepaldi, gestora do residencial, que é ligado à ONG Liga Solidária.


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