Folha de S. Paulo


Sem aval, avião que caiu voou sobre área populosa 7 vezes no ano

O avião que caiu na Casa Verde (zona norte de SP) pousou e decolou sete vezes no Campo de Marte neste ano, segundo a Infraero (Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária). Três minutos após a última decolagem, no dia 19 de março (sábado passado), o avião bateu em um sobrado e explodiu, matando as sete pessoas a bordo –incluindo o dono do avião, Roger Agnelli, ex-presidente da Vale.

O avião do acidente, de prefixo PR-ZRA, era uma aeronave experimental, e não poderia ter decolado ou pousado nenhuma vez no Campo de Marte, segundo a Anac (Agência Nacional de Aviação Civil). Isso porque, segundo as normas da agência, um avião experimental não pode sobrevoar áreas densamente populosas, como é o caso da região do aeroporto.

A Anac adota essa regra alegando que as aeronaves experimentais não são submetidas a testes como os convencionais, e os riscos de acidente são maiores. A fiscalização dos pousos e decolagens cabe à Aeronáutica, que diz que o piloto do avião, Paulo Roberto Bau (um dos mortos no acidente), não avisou sobre a condição da aeronave ao controle do tráfego aéreo em nenhuma das vezes.

JUNDIAÍ

No sábado, o piloto Paulo Bau conduziu o avião do hangar Jet Avionics, em Jundiaí (58 km de SP), até o Campo de Marte, para levar a família do empresário ao aeroporto Santos Dumont, no Rio de Janeiro.

O delegado Marcio Mathias do 13º DP, responsável pelo inquérito do acidente, disse que irá enviar um ofício à Infraero e à Aeronáutica para apurar se houve algum tipo de negligência na autorização de decolagem e pouso da aeronave experimental.

A Sintrex é a representante da Comp Air no Brasil, fabricante do modelo da aeronave de Agnelli. A reportagem não conseguiu falar com ninguém da empresa ontem.

AERONÁUTICA CULPA PILOTO

A Aeronáutica, responsável por autorizar pousos e decolagens no Campo de Marte, afirmou que não sabia que o avião que sofreu o acidente era uma aeronave experimental porque "essa característica não foi informada pelo piloto aos órgãos de tráfego aéreo". A reportagem não conseguiu localizar, ontem, o advogado do piloto do avião, Paulo Roberto Baú (que morreu no acidente).

A Aeronáutica disse ainda que não é sua atribuição emitir certificado de autorização para aviões ou voos experimentais _o que cabe à Anac.

AGÊNCIA DIZ QUE SEGUIU A LEI

A Anac (Agência Nacional de Aviação Civil), responsável por estabelecer as regras de aviação civil no país, diz que fez o que lhe cabia: emitir o certificado de que a aeronave PR-ZRA era um avião para voos experimentais, documento que "indica a restrição de sobrevoo a áreas densamente povoadas". Sobre o plano de voo, o órgão diz que "a informação sobre a categoria de registro de aeronaves é disponibilizada publicamente por meio do sítio eletrônico da agência". Pelo site (e de posse da matricula do avião), "qualquer cidadão pode verificar as informações sobre o registro da aeronave", diz a Anac.


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