Folha de S. Paulo


Famílias do Semiárido guardam água da chuva para plantar o ano inteiro

Daniel Marenco/Folhapress
Mulher capta água de cisterna em Baraúna, na Paraíba
Mulher capta água de cisterna em Baraúna, na Paraíba

Sobreviver com pouca água é a tônica de quem mora no Semiárido.

Desde 2007, mais de 100 mil famílias são atendidas por um programa que ajuda as pessoas a acumular água no inverno para que suas plantações não morram de sede durante o verão.

Os números oficiais da iniciativa, coordenada pela Articulação do Semiárido e que conta com financiamento do governo federal, mostram que, em quase dez anos, ocorreu a instalação de 88.591 estruturas para captar água.

Outros 1.318 equipamentos coletivos foram feitos. Eles chegam a atender de cinco a dez famílias em média.

Para fazer parte do programa, as famílias têm de preencher vários critérios. Entre eles ter renda familiar per capita de até meio salário mínimo, ter cisternas para consumo humano e ter a intenção de produzir alimentos.
Uma das tecnologias usadas para driblar a aridez é a cisterna-calçadão.

Constrói-se uma calçada de 200 metros quadrados sobre o solo. Depois de 300 mm de chuva [um temporal de verão normal em São Paulo despeja entre 60 mm e 80 mm em poucas horas] a família terá, em seu quintal, um acúmulo de 52 mil litros de água.

Dependendo do solo e do relevo é possível fazer outras estruturas, como pequenas barragens ou tanques.

Também existe a opção de construir uma bomba manual, com uma roda volante, para retirar a água acumulada em poços desativados.

Apesar das várias técnicas e do número de 100 mil famílias atendidas, o programa de conservação de água para agricultura não atinge nem 10% da população local.

Por isso, o desafio é ampliar o número de famílias atingidas pela iniciativa, diz Antonio Barbosa, coordenador do programa no ASA. A dificuldade, porém, cresce com a crise econômica e a redução do Orçamento.
"A população do Semiárido é de 1,5 milhão de famílias. Com o ajuste fiscal, ampliar o atendimento tem sido um processo lento", diz Barbosa.

As iniciativas, de acordo com os números do programa, estão espalhadas por 723 municípios de nove Estados: Alagoas, Bahia, Ceará, Minas Gerais, Paraíba, Pernambuco, Piauí, Rio Grande do Norte e Sergipe.
Sem a ampliação de pessoas beneficiadas, a distribuição de água vai continuar desigual no Semiárido.

Existe no Nordeste por volta de 70 mil açudes (37 bilhões de metros cúbicos de água). Por estarem em propriedades particulares, eles não podem ser usados pela população que vive na região.

A agricultura familiar do Semiárido é importante para o país. Mais da metade das quatro milhões de famílias que produzem 70% da produção nacional de alimentos vive na região.


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