Folha de S. Paulo


Acidente aéreo reacende debate sobre localização de Campo de Marte

A criação de redes de trens de alta velocidade que interligam as cidades de Guarulhos e Campinas à capital paulista seria alternativa para desafogar o intenso tráfego dos aeroportos de Campo de Marte e Congonhas.

Os dois aeroportos estão inseridos em áreas residenciais de São Paulo e, a cada acidente aéreo em seu entorno, a segurança de sua localização é questionada por especialistas.

O último acidente do gênero foi no último sábado (19), quando a queda de uma aeronave matou sete pessoas, incluindo o ex-presidente da Vale Roger Agnelli. A aeronave caiu em uma área residencial de alto padrão três minutos após a sua decolagem, no aeroporto de Campo de Marte.

Para a urbanista Teresa Cristina de Almeida Faria, da Universidade Federal de Viçosa, a presença de aeroportos dentro de cidades é um dos inúmeros exemplos de contradições dentro de uma metrópole como São Paulo.

Se por um lado, não é factível um aeroporto de grande movimentação dentro da área urbana, por outro lado São Paulo não pode abrir mão de aeroportos bem conectados à cidade.

"O problema é que aeroportos como Congonhas e Campos de Marte chegaram onde estão antes mesmo da própria cidade. A cidade foi engolindo o entorno do aeroporto. Na verdade, a cidade não poderia ter chegado tão próxima assim". Segundo Teresa, que trabalhou durante oito anos em projetos da Infraero, ao longo das décadas não houve em São Paulo a criação de um plano diretor capaz de prover um crescimento ordenado e seguro no entorno dos aeroportos.

"No entanto, quando a cidade já está consolidada e é imprescindível a aviação aérea em uma cidade como São Paulo, como retirar os aeroportos de onde estão?", questiona.

Uma solução para a urbanista, seria diminuir fortemente o tráfego aéreo nos aeroportos dentro das cidades, transferir voos para Guarulhos e Campinas e criar trens rápidos entre essas cidades e a capital paulista.

"Campinas tem um corredor, que é a avenida Bandeirantes, onde se tem o potencial de implantar um trem de alta velocidade [até São Paulo]. Seria possível reduzir uma viagem entre Campinas e São Paulo de 1h30 para 30 minutos".

A vantagem de Campinas, em relação à Guarulhos é que o aeroporto tem potencial de crescimento em número de voos e em número de passageiros. Enquanto isso, Guarulhos tem um fluxo mais intenso de aeronaves e a transferência de voos para lá necessitariam da construção de uma terceira pista no aeroporto.

"Se não se investir em outros meios de transporte, como trens e metrôs, não vejo como retirar os aeroportos de onde estão", argumenta. "Infelizmente, acidentes são factíveis de acontecer. Mas diminuir o tráfego aéreo nos dois aeroportos, só com outras alternativas".

OUTROS ACIDENTES

O aeroporto Campo de Marte, na zona norte, já foi palco de ao menos outros quatro graves acidentes aéreos com vítimas desde a década de 1980.

A última grande tragédia no aeroporto ocorreu em 4 de novembro de 2007, quando um jato Learjet que havia acabado de decolar em direção ao Rio perdeu altitude e caiu em cima de casas na rua Bernardino de Sena, no bairro da Casa Verde. Estavam a bordo da aeronave o piloto e copiloto, que morreram no local.

Outras seis pessoas da mesma família, entre as quais um bebê, morreram. Elas moravam na rua do acidente.

Duas vítimas ficaram feridas, sendo que uma delas teve 30% do corpo queimado. O jato, para dez pessoas, pertencia à Reali Táxi Aéreo.

Em 24 de novembro de 1995, após deixar o Campo de Marte, um avião Cessna caiu sobre dois carros e explodiu na avenida Santos Dumont, também na zona norte.

O piloto e cinco passageiros morreram. Três pessoas que estavam nos carros ficaram feridas. A aeronave ia para Sorocaba e, segundo funcionários do aeroporto, seu motor parou de funcionar logo depois da decolagem.

Em 17 de janeiro de 1984, um bimotor de uma empresa de taxi-aéreo decolou do aeroporto e despencou sobre três casas na rua Genésio Pereira, no bairro do Carandiru.

Morreram no acidente os seis ocupantes do avião e um pedreiro que trabalhava em uma das casas atingidas. Três moradores da região ficaram feridos com gravidade.

Segundo as apurações, a queda foi causada pela rachadura da pá de uma das hélices do avião. O bimotor ia para Porto Velho (RO), mas faria escala em São José do Rio Preto, no interior paulista.

O Campo de Marte tem ainda histórico de acidentes com helicópteros. O último com gravidade aconteceu em 25 de outubro de 2003, quando um helicóptero que havia decolado do Campo de Marte caiu durante a realização de manobra de treinamento.

A aeronave bateu na pista, pegou fogo, arrastou-se por 40 metros e explodiu. Os dois ocupantes foram retirados com vida, mas o instrutor morreu dias depois.


Endereço da página:

Links no texto: