Folha de S. Paulo


Ajuda a pais de bebês com microcefalia vai de faxina a oficina de massagem

A enfermeira Rosely Fontoura, 31, ensina a fazer massagem indiana. A relações públicas Áurea Negromonte, 36, passeia com um menino de nove anos para que a mãe dele possa cuidar do caçula. Já o estudante Kleber Alencastro, 19, distrai as crianças enquanto os pais conversam com o médico.

Comovidos com a explosão de casos de microcefalia no Recife, capital do Estado com maior número de notificações (1.779, segundo o último boletim da Secretaria de Saúde de Pernambuco), os três passaram a ajudar voluntariamente pais e bebês com a má-formação cerebral.

Rosely, que trabalha no atendimento a gestantes e mães de recém-nascidos, começou a oferecer, aos domingos, oficinas gratuitas de ofurô, shantala (massagem indiana) e "wrap sling" (espécie de canguru de tecido para carregar o bebê).

"Não tenho muitas condições financeiras, mas tenho especialização e experiência na área. Vi que poderia contribuir ensinando técnicas que ajudam no crescimento dos bebês", conta. O sorriso das mães ao fim das aulas, que duram três horas, "é recompensador," afirma.

A shantala e o banho de ofurô, que pode ser feito em baldes com água morna, acalmam os bebês com microcefalia, que apresentam irritabilidade acima da média. O "wrap sling", que mantém a criança junto ao corpo da mãe, tem o mesmo efeito.

A enfermeira descobriu o voluntariado na época da faculdade, quando atuou em comunidades pobres da região metropolitana do Recife. Hoje, ela sonha em levar seus cursos para outros Estados.

Doenças transmitidas pelo Aedes aegypti

Participante da primeira oficina, Alexsandra de Lima, 36, vem praticando com o filho Pedro Henrique, de quatro meses, o que aprendeu com Rosely. "Ele está mais tranquilo", comemora.

Outra voluntária é Áurea Negromonte que, desde os 12 anos, participou de inúmeras ações solidárias, e hoje ajuda como pode Jaqueline Vieira, 25, mãe de Daniel, de cinco meses. As duas se conheceram na Amar (Aliança de Mães e Famílias Raras).

Desempregada, Jaqueline foi abandonada pelo marido depois que o caçula nasceu com microcefalia.

Além de acompanhá-los a consultas médicas, Áurea arrecada donativos e ajuda nos cuidados com a casa e com o outro filho de Jaqueline, João Paulo, de 9 anos.

"Há 15 dias Jaqueline estava com chikungunya, sem poder se mexer direito, então chamei dois amigos e fomos para a casa dela fazer faxina e ajudar a cuidar dos meninos", conta.

Nos fins de semana, Áurea promove um dia de lazer para João Paulo. "Daniel tem convulsões e chora bastante, o que consome toda a atenção de Jaqueline. Para o maior não ficar triste, levo-o para ter um dia diferente", diz.

"Há lacunas que não são supridas pelo poder público. Se cada um fizer um pouco, vamos melhorar a vida de muita gente", acredita.

O universitário Kleber Alencastro, 19, também da Amar, ajuda as famílias de bebês com microcefalia que chegam à associação ao menos três vezes por semana.

Às quintas-feiras, o estudante de fisioterapia sai da zona norte do Recife, onde mora, e segue para o centro de reabilitação da Fundação Altino Ventura, na zona oeste, onde passa o dia ajudando a cuidar dos bebês.

"Eu fico segurando as crianças enquanto os pais estão marcando consulta ou conversando com os médicos. Distraio e acalmo eles", afirma.

Nos fins de semana, dedica parte do tempo a visitar as famílias. "Vou para conversar com as mães, já que a maioria não conta com o apoio da família e muitas o marido abandonou. Também ajudo nos afazeres de casa."

Editoria de Arte/Folhapress
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