Folha de S. Paulo


Cidade no interior paulista não tem casos de dengue há 11 anos

Em alguns pontos, agentes instalam armadilhas para pegar o Aedes aegypti. Em outros, colam adesivos nos imóveis vistoriados contra dengue. Nas escolas, crianças são orientadas sobre o ciclo de transmissão da doença. Município de 5.500 habitantes, Barra do Chapéu (a 350 km de São Paulo) é a única cidade paulista sem casos de dengue nos últimos 11 anos, segundo levantamento da Folha a partir de dados do CVE (Centro de Vigilância Epidemiológica), da Secretaria de Estado da Saúde.

Prefeitura de Barra do Chapéu/Divulgação
Monitorado, pneu com água é armadilha contra mosquito
Monitorado, pneu com água é armadilha contra mosquito

O conjunto de medidas adotadas é apontado como responsável pelo cenário positivo. Isso apesar de o mosquito transmissor da dengue, zika e chikungunya –doenças também não registradas na cidade– já fazer parte do cotidiano local. "Temos a infestação do mosquito, mas, até aqui, não houve transmissão", disse a diretora da Vigilância em Saúde, Lissandra de Araújo.

Segundo ela, no ano passado surgiram dois casos suspeitos de dengue, mas nenhum se confirmou. Uma das táticas é espalhar armadilhas para monitorar o aedes. Oito pneus com água são colocados na área urbana e no entorno da cidade. Semanalmente, agentes conferem se há larvas. Se sim, são enviadas para análise.

Na cidade de 600 imóveis, a fiscalização é feita por 14 agentes (um de endemias e 13 comunitários), que se dividem em orientar alunos nas escolas, visitar locais estratégicos e atender denúncias de possíveis criadouros. O número está dentro do preconizado pelo Ministério da Saúde. "Também priorizamos neste ano a colocação de adesivos nas casas inspecionadas, para que os agentes saibam que o imóvel está livre do mosquito. Há preocupação porque toda a população está suscetível", diz Araújo.

Doenças transmitidas pelo Aedes aegypti

Até abril, haverá nove mutirões. A medida não foi adotada em 2015, mas está sendo feita agora porque o mosquito também transmite zika e chikungunya. Uma das preocupações é que alguém contraia o vírus em municípios vizinhos, que registraram casos de dengue nos últimos anos. Neste ano, houve casos suspeitos em 14 cidades da região, como Itapeva, Taguaí e Capão Bonito.

"O resultado aparece só com educação em saúde. Uma série de medidas educativas resulta nisso. Tem de investir sempre, o ano todo", disse o médico sanitarista Rodolfo Telarolli, professor de saúde pública da Unesp de Araraquara. Segundo ele, a prevenção tem de ser feita também com mutirão, aplicação de veneno e visitas domiciliares fora do período de maior incidência (junho a novembro).

Até 2015, outras três cidades paulistas também estavam sem registro de dengue desde 2006. Mas Torre de Pedra (com sete casos confirmados, cinco deles importados), Monteiro Lobato (dois importados) e Timburi (um) deixaram de fazer parte da seleta lista de registro zero.

TAMANHO DA CIDADE

O fato de uma cidade ser pequena não significa que corra menos risco de registrar dengue. Em São Paulo, 165 municípios menores que Barra do Chapéu tiveram casos nos últimos anos. Em 2015, até Borá, a menos populosa (800 habitantes), teve 17 registros –seis autóctones, ou seja, contraídos no local. Até o início de fevereiro, 281 cidades, ou 43,5% do total do Estado, enviaram dados ao CVE informando casos da doença –autóctones ou importados.


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