Folha de S. Paulo


Empresas estrangeiras de jogos de azar miram mercado brasileiro

Há quem diga que um jogo de azar não é um jogo de azar quando apenas se ganha. E essa parece ser a aposta de uma série de multinacionais do setor de jogos que estão atentas aos movimentos do Congresso Nacional.

Na volta do recesso de fim de ano, parlamentares voltam a discutir a legalização dos jogos no país –incluindo bingos, cassinos, jogo do bicho e casas de aposta.

O debate ganhou força com a crise, que levou o governo a considerar a receita da atividade, estimada em R$ 15 bilhões anuais, como opção para melhorar as contas.

Para garantir uma fatia nesse possível novo mercado, empresas do setor reforçaram o time de lobistas. O apetite era visível em uma recente feira internacional do ramo realizada em Londres.

Ali, a fabricante italiana de caça-níqueis VNE expunha em seu estande uma bandeira do Brasil com os dizeres: "Máquinas prontas para o mercado brasileiro". O expositor dizia: "Estamos todos ansiosos".

Com a mesma expectativa, outra gigante do setor, a multinacional IGT, autodeclarada maior do mundo no ramo de jogos de azar, mantém escritório no Brooklin (zona sul de SP), à espera da retomada dos negócios, suspensos desde a proibição de bingos em 2004.

A IGT atualmente é sócia mundial da Gtech, flagrada em contratos irregulares investigados pela CPI dos Bingos em 2004.

Jogos de Azar no Brasil

ALTERNATIVA

Enquanto o tema é discutido no Congresso, outras multinacionais do setor passaram a atuar em modalidades legais no Brasil à espera de uma possível expansão.

Presente em 55 países, a Intralot tem participação na loteria estadual mineira e faz da experiência um laboratório para tentar ampliar os negócios para outros locais.

A espanhola Codere lançou neste mês no Brasil uma nova plataforma on-line de apostas de corridas de cavalo –uma das poucas modalidades de aposta legal no país.

Nova patrocinadora do Corinthians, a WinnerPlay, afiliada da casa de apostas israelense Winner.com, tem um site que dá prêmios a palpites não pagos sobre resultados de jogos de futebol.

O modelo está pronto para ser transformado em um site de apostas caso a legalização avance no Congresso, afirmam analistas do mercado.

Para Pedro Trengrouse, professor da Fundação Getúlio Vargas e especialista em marketing esportivo, é nítido o interesse do setor no Brasil neste momento.

Segundo ele, o país é um dos últimos do G-20 (grupo das 20 nações mais ricas) a regulamentar a atividade.

Integrantes do Ministério da Fazenda dedicados à gestão da regulação de mercados ouvidos pela Folha sob condição de anonimato afirmam que, com a crise econômica, o ambiente para a discussão do assunto está mais favorável do que nunca.

Um dos projetos sobre o tema integra inclusive a Agenda Brasil, documento que elenca propostas contra a crise consideradas prioritárias pelo presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL).

Para entrar em vigor, a proposta, analisada em comissão especial, ainda precisa ser aprovada no plenário e passar pela Câmara antes de seguir para sanção ou veto da Presidência da República.
Os deputados, por sua vez, analisam outro projeto com teor semelhante, que terá também que passar pelo Senado.

Diante da oportunidade, o advogado Luiz Felipe Maia, que atua para empresas do ramo, diz que as companhias interessadas em entrar no Brasil deveriam fazer um trabalho de relações públicas para mudar a imagem do jogo no país, hoje associada a crimes.

A uma plateia de investidores internacionais no início deste mês, ele declarou: "A hora do lobby é esta".

O jornalista FABRÍCIO LOBEL viajou a convite da Codere


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