Folha de S. Paulo


Governos pretendem transformar vacina contra dengue em antizika

Danilo Verpa/Folhapress
SAO PAULO - SP - 22.02.2016- A presidente Dilma Rousseff junto com o governado do Estado de Sao Paulo, Geraldo Alckmin assinam contrato entre o Ministerio da Saude e a Fundacao Butantan para o desenvolvimento da vacina da dengue no Hospital das Clinicas da Faculdade de Medicina da USP. (Foto: Danilo Verpa/Folhapress, PODER) ORG XMIT: Vacina contra Dengue
A presidente Dilma Rousseff (PT) e o governador Geraldo Alckmin (PSDB) em evento em São Paulo que marca os primeiros testes da última fase da vacina contra a dengue

Os governos federal e de São Paulo pretendem aproveitar uma vacina contra a dengue que está em fase final de testes para criar um imunizante único —que, além de evitar os quatro tipos da doença, seja ainda antizika.

A aposta foi divulgada nesta segunda-feira (22) pela presidente Dilma Rousseff (PT) e por integrantes da gestão Geraldo Alckmin (PSDB), no evento em que a União liberou R$ 100 milhões para a terceira e última etapa de testes da vacina contra a dengue desenvolvida pelo Instituto Butantan, do governo paulista.

"O desafio é chegar à vacina contra o zika vírus. Um dos caminhos é esse, de transformar essa vacina tetravalente [contra os quatro tipos de dengue] em uma vacina pentavalente [incluindo ainda a zika]", afirmou Dilma.

A vacina contra a dengue do Instituto Butantan começou a ser estudada em 2008 —e a estimativa é que possa ser aplicada em 2018.

Infográfico: Epidemia de dengue em São Paulo

O aporte da União para desenvolvê-la só chegou agora, em meio à repercussão mundial do avanço do vírus da zika, transmitido pelo Aedes aegypti, mesmo vetor da dengue. Antes, havia financiamento do governo paulista, do BNDES e da Fapesp (fundação paulista para pesquisas).

Mas, segundo especialistas, a vacina única precisa seguir testes independentes e deve demorar ainda mais, mesmo que seja aproveitado parte do que já foi adquirido nos testes da vacina contra a dengue.

"O desenho de fazer uma mesma vacina contra dengue e zika é interessante, mas, primeiro, é preciso saber como o vírus da zika realmente se comporta", diz Esper Kallás, infectologista do Sírio-Libanes e pesquisador da USP.

"O mais importante é continuar com os testes da vacina contra dengue, que, em termos de saúde pública, é até mais importante que a zika", afirma Sylvio Renan de Barros, que atuou por três décadas no Hospital Sabará.

Em 2015, a epidemia de dengue no país bateu recorde, com 1,6 milhão de casos.

O surto de zika despertou atenção mundial especialmente devido à possível relação com a alta de casos de microcefalia (má-formação no cérebro de recém-nascidos). De outubro para cá, foram confirmados 508 casos e há outros 3.935 em investigação.

A vacina do Butantan contra a dengue passou pelas fases 1 e 2 (para avaliar a segurança do produto) e será testada em 17 mil voluntários (para mensurar sua eficácia).

O presidente do Instituto Butantan, Jorge Kalil, diz que, se a mistura não for bem-sucedida, será desenvolvida uma nova vacina separada do imunizante contra dengue.

APOSTAS

Além dos R$ 100 milhões liberados nesta segunda pelo Ministério da Saúde, a gestão Dilma se comprometeu com mais R$ 200 milhões que devem vir do Ministério da Ciência e Tecnologia e do BNDES.
O dinheiro servirá para aumentar a capacidade de produção de vacinas do instituto paulista, por exemplo.

Incidência de dengue até 3ª semana de 2016

Um outro convênio firmado é para desenvolver tratamento a pessoas infectadas pela zika. O instituto irá estudar soros e medicamentos capazes de diminuir os efeitos do vírus no organismo.

"Os dois são igualmente importantes, pois nós conseguiríamos atuar nas mulheres grávidas, principalmente, tentando evitar a transmissão de mãe para filho de zika vírus", disse David Uip, secretário da Saúde do governo Alckmin.

A Fapesp ainda vai investir R$ 100 milhões em trabalhos científicos para investigar dengue, zika e chikungunya.

Dengue fase a fase

OUTRA VACINA

Uma outra vacina contra a dengue, produzida pela multinacional francesa Sanofi Pasteur, começou a ser usada nas Filipinas nesta segunda (22) e deve chegar ao Brasil até junho

O medicamento, que já foi registrado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) no fim de dezembro, terá seu preço determinado pela Câmara de Regulação do Mercado de Medicamentos nos próximos meses. O laboratório responsável diz que já está pronto para comercializar o produto no país.

México, Paraguai e El Salvador também já registraram a Dengvaxia, nome comercial do imunizante desenvolvido pelo laboratório Sanofi, que também pretende lançar uma vacina contra o vírus da zika até o fim do ano que vem.

A vacina foi testada em um grupo de 21 mil pessoas situadas em cinco países onde a dengue é endêmica —Brasil, Colômbia, México, Honduras e Porto Rico— e apresentou uma eficácia global de 66% contra as quatro variações do vírus.

A vacina se mostrou mais eficiente contra a dengue tipo 4 (83%) e 3 (73%) e menos eficiente contra os tipo 1 (58%) e 2 (47%). O estudo foi feito com pessoas entre 9 e 45 anos.

O imunizante deve ser aplicado em três doses, com intervalos de seis meses, o que tende a prejudicar sua implementação em massa já que muita gente abandona o tratamento no meio do caminho. A proteção começa 21 dias depois da primeira dose.

Segundo Sheila Homsani, diretora médica da Sanofi Pasteur, o medicamento chegará primeiro à rede particular.

Nas Filipinas, primeiro país a comercializar a vacina, o medicamento está sendo distribuido via convênio médico.

Casos confirmados nas 3 primeiras semanas


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