Folha de S. Paulo


Entidade nega ter associado larvicida à microcefalia; RS mantém proibição

A Abrasco (Associação Brasileira de Saúde Coletiva) divulgou uma nota nesta segunda-feira (15) negando que tenha associado o uso do larvicida pyriproxyfen a casos de microcefalia.

O larvicida é utilizado pelo Ministério da Saúde desde o fim de 2014 no combate às larvas do mosquito Aedes aegypti. No sábado (13), o governo do Rio Grande do Sul suspendeu seu uso após um relatório de um grupo argentino apontar a possibilidade de a substância potencializar a má-formação cerebral causada pelo vírus da zika.

O texto argentino cita uma nota técnica da Abrasco em que a associação alerta para o uso contínuo do produto, sem contudo fazer a relação entre ele e o aparecimento dos casos da doença.

De acordo com a nota divulgada nesta segunda, a associação afirma que "em momento nenhum afirmou que os pesticidas, larvicidas ou outro produto químico sejam responsáveis pelo aumento do número de casos de microcefalia no Brasil".

Apesar da nota, o governo gaúcho decidiu manter a decisão de suspender o uso do larvicida. Em entrevista à Folha, o secretário da Saúde do Rio Grande do Sul, João Gabbardo dos Reis, comparou o produto com "veneno" e disse que as dúvidas sobre como o vírus da zika age impõem "cautela".

Para Gabbardo, trata-se de "bom senso" deixar de aplicar o produto em água potável, apesar de o Ministério da Saúde, que fornece o produto pelo país, descartar relação do uso do larvicida com casos de microcefalia.

"Não se pode responder com certeza se a microcefalia é só por causa do vírus da zika ou se existe algum outro fator predisponente, que se associa ao vírus. Tem muitas coisas que nós temos dúvidas. Na dúvida, não há necessidade de usar alguma coisa que pode, mais adiante, nos causar prejuízo", disse Gabbardo.

Ele afirma que o Rio Grande do Sul irá reforçar ações para evitar que o mosquito Aedes aegypti se prolifere em caixas d'água, reservatórios e cisternas, usando telas e plástico nesses recipientes e fazendo lavagem nesses locais. Dessa forma, diz, o uso do produto se torna dispensável.

"Tem risco de alguém errar a concentração [do larvicida], colocar mais veneno do que deveria. Tem o risco de alguém achar que, para dar mais segurança, é melhor botar mais desse produto para matar o mosquito. Tem o efeito cumulativo, [a pessoa] fica tomando essa água durante anos, e nós não temos a segurança de que isso não causa prejuízos ao ser humano."

Segundo Gabbardo, o efeito prático da decisão no Estado será pequeno porque mais de 90% das casas têm acesso à rede de distribuição de água e o uso do produto em água potável era residual. Em chafarizes, cemitérios e em reservatórios de reaproveitamento de água da chuva, o Pyriproxyfen continuará sendo utilizado.

De acordo com a Secretaria da Saúde, o Estado recebeu em janeiro 80 quilos do produto, que estão em estoque. O larvicida é adquirido pelo Ministério da Saúde e repassado às coordenadorias estaduais, que entregam aos municípios.

DISSEMINAÇÃO DE INVERDADES

Em sua nota oficial, a Abrasco também afirma que as incertezas provocam insegurança na população e "é terreno fértil para a disseminação de inverdades e de conteúdos sem qualquer (ou suficiente) embasamento científico".

A associação, porém, reafirma sua preocupação quanto ao uso do produto. "A Abrasco apóia decisões pautadas pelo princípio da precaução, como a suspensão do uso do larvicida pyriproxyfen, e reafirma que as ações de combate ao vetor nas últimas décadas têm se mostrado inefetivas, posto o contínuo crescimento do número de casos das doenças transmitidas pelo mosquito."

Na avaliação da Abrasco, há forte associação entre o vírus da zika e lesões neurológicas, mas ainda não é possível considerar que o nexo causal esteja definitivamente estabelecido. "Entende-se que há muito a ser esclarecido sobre a associação com outros fatores, como variantes do vírus e imunidade", diz a entidade.

Editoria de Arte/Folhapress
Clique na foto e veja o especial sobre o vírus da zika e microcefalia
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