Folha de S. Paulo


Fundação referência em microcefalia sofre sem repasses em PE

Referência na reabilitação de bebês com microcefalia em Pernambuco, Estado que concentra maior número de registros da má-formação, a Fundação Altino Ventura está sendo obrigada a demitir funcionários, reduzir a estrutura de atendimento e recorrer a empréstimos devido à falta de repasse de verbas públicas.

A instituição, que cuida de 135 crianças com microcefalia no Recife, não recebe recursos do governo federal e estadual desde maio do ano passado -desde então, deveriam ter chegado R$ 13,3 milhões.

"Demitimos 16 colaboradores neste mês e desativamos um dos dois blocos de cirurgia", disse à Folha Liana Ventura, presidente da fundação, que terá que pedir empréstimos para cobrir custos.

O Ministério da Saúde afirmou que a liberação de verbas está regular e que o Estado não está repassando os recursos para a instituição.

"É importante esclarecer que foi enviado no dia 9 de novembro de 2015 ofício para a Secretaria Estadual de Saúde de Pernambuco solicitando a regularização dos pagamentos ao CER 4 (centro de reabilitação)", disse a pasta.

Avener Prado/Folhapress
Mães esperam por atendimento na Fundação Altino Ventura
Mães esperam por atendimento na Fundação Altino Ventura

Já a Secretaria Estadual de Saúde de Pernambuco afirmou, por meio de nota, que "todos os débitos com a unidade estão sendo gradativamente sanados."

A Fundação Altino Ventura dirige o Centro Especializado em Reabilitação "Menina dos Olhos", um dos poucos que oferece reabilitação visual, física, auditiva e intelectual. Segundo levantamento da instituição, cerca de 40% dos bebês com microcefalia ligada ao zika têm problemas visuais.

O centro ajuda no diagnóstico das crianças e em rotinas de fisioterapia para aumentar o desenvolvimento dos bebês com microcefalia.

O Ministério da Saúde afirmou recentemente que o "estímulo precoce" é essencial.

"A estimulação ajuda a desenvolver ao máximo o potencial da criança. Com esse atendimento, buscamos dar maior autonomia à criança e à sua família", disse o secretário de Atenção à Saúde da pasta, Alberto Beltrame.

"Pode ser definitivo, por exemplo, para a criança aprender a segurar a cabeça, sentar, engatinhar e andar, dependendo da gravidade", declarou Beltrame.

Ao lado da AACD de Recife, a Fundação Ventura recebe centenas de bebês diagnosticados com microcefalia nos últimos meses. Pernambuco é o Estado com maior número de casos de microcefalia ligada ao zika notificados : 1.373, dos quais 138 foram confirmados e 1.125 estão em investigação.

Na manhã desta quinta-feira (28), cerca de 30 mães e seus bebês passaram por consultas do neuropediatra, oftalmologista, psicólogo e fisioterapeuta na fundação.

A recepcionista Danielle Santos, 29, trouxe o filho Juan Pedro, de dois meses, para fazer exames oftalmológicos e neurológicos. "O Juan chora muito, só para quando está no banho", diz Danielle. O pai da criança abandonou Danielle quando Juan tinha um mês. Ela tem ainda uma filha de 11 anos, Jennifer, que ajuda a cuidar do irmão.

Os bebês com microcefalia costumam ser muito irritadiços, chegam a chorar durante horas, ininterruptamente, e têm problemas para segurar o pescoço e fazer outros movimentos, o que varia segundo a gravidade do caso.

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