Folha de S. Paulo


Vacina contra zika ainda demora 3 ou 4 anos, diz autoridade americana

O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, leva muito a sério o risco de o vírus zika se espalhar pelo território norte-americano.

A afirmação é de Anthony Fauci, diretor do Instituto Nacional de Saúde dos EUA (NIH, na sigla em inglês), uma das autoridades que participaram da reunião com Obama sobre o zika nesta quarta (27).

Em entrevista à Folha, Fauci aconselhou o Brasil a priorizar o combate ao mosquito e estimou que deve demorar "três ou quatro anos" para que a vacina contra o zika esteja pronta para distribuição.

Jabin Botsford/The New York Times
Anthony Fauci, diretor do Instituto Nacional de Saúde dos Estados Unidos
Anthony Fauci, diretor do Instituto Nacional de Saúde dos Estados Unidos

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Folha - A reunião convocada pelo presidente Obama indica o grau de preocupação do governo com o vírus zika. Em que medida o problema é mais grave que outros surtos?
Anthony Fauci - Não é produtivo fazer rankings e comparações com outros surtos. Basta dizer que encaramos o problema com muita seriedade e queremos ficar à frente dos acontecimentos. É esta a visão do presidente, ele quer ficar à frente. O presidente vê [o problema] com muita seriedade.

Qual o risco de uma epidemia de zika nos EUA?
Certamente haverá casos importados de zika nos EUA. Vimos isso com a dengue e a chikungunya. Mas não acredito que haverá uma epidemia. Talvez haja um pequeno número de contágios locais, como ocorreu com a dengue. Mas temos capacidade para suprimir uma epidemia.
Historicamente, tivemos casos de dengue importados do Caribe e da América do Sul e o vírus se estabeleceu em alguns locais da Flórida e do Texas. Mas, graças a um combate agressivo à proliferação do mosquito, nós conseguimos impedir que progredisse.
Nunca se deve dizer nunca, mas consideramos improvável um grande surto de zika nos EUA como vemos na América do Sul.
Até agora não houve transmissão local de zika no território dos EUA, só em Porto Rico. Há cerca de 20 casos "importados".

Como estão os estudos sobre o elo entre zika e microcefalia?
Os estudos não estão sendo conduzidos nos EUA porque só temos um caso de uma mulher grávida no Havaí que foi contaminada no Brasil. Para conduzir um estudo é preciso ter muitos casos. O Centro de Controle de Prevenção de Doenças (CDC, na sigla em inglês), junto com as autoridades brasileiras, estudou alguns casos no Brasil e identificou o vírus em bebês de mães que tinham o zika. Embora não seja uma prova definitiva de causa, fortalece um crescente volume de evidências de associação entre o zika e a microcefalia. Mas ainda não conseguimos provar que o zika é a única causa da microcefalia.

O presidente Obama pediu pressa no desenvolvimento de uma vacina contra o zika. Quanto tempo deve levar para ela ficar pronta?
Certamente não estará disponível para ser usada no atual surto no Brasil. Mas, assim como acontece com a dengue, não esperamos que o zika desapareça do Brasil, por isso é importante desenvolvermos uma vacina.
Uma vacina para ser testada em humanos deve estar pronta em um ano, talvez menos. Para distribuição, provavelmente só dentro de três ou quatro anos.

Como está a colaboração com o Brasil?
Temos uma longa relação científica com o Brasil. É uma vantagem, porque não precisamos partir da estaca zero. Temos financiado pesquisas no Brasil. Uma vacina contra a dengue desenvolvida aqui no NIH está sendo testada no Instituto Butantã [SP] neste momento. Para o zika, já começamos os trabalhos e certamente haverá cooperação com os colegas brasileiros.

As autoridades de saúde dos EUA recomendaram a gestantes que evitem viagens ao Brasil e a outros países com incidência do vírus. Esse alerta pode ser ampliado?
O mais importante é que as mulheres grávidas estejam conscientes da advertência. O público em geral não está incluído no alerta. Para o Brasil, a prioridade máxima deve ser o combate ao mosquito.


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