Folha de S. Paulo


Procuradoria vai acionar órgão federal por desastre em Mariana

As primeiras ações civis contra os possíveis responsáveis pelo rompimento da barragem da Samarco em Mariana (MG) serão direcionadas a órgãos do poder público.

O despejo da lama com resíduos de mineração, ocorrido em 5 de novembro, provocou um dos maiores desastres ambientais do país e a morte de 19 pessoas.

Um dos alvos é o DNPM (Departamento Nacional de Produção Mineral), entidade federal que, segundo a investigação, não cumpriu sua função de fiscalizar adequadamente a barragem.

Como antecipado pela Folha, documentos exigidos no licenciamento estavam incompletos ou previam um menor potencial de destruição em caso de um desastre.

O plano de emergência do reservatório de Fundão, por exemplo, que deveria explicitar as ações imediatas e as pessoas que precisavam ser avisadas em caso de incidente, não incluía estratégia de alerta a moradores de Bento Rodrigues -vilarejo que foi destruído pela lama.

Já análises de um possível rompimento da estrutura não levavam em conta que a lama chegasse até o rio Doce -os rejeitos percorreram 500 km de rios e alcançaram o litoral do Espírito Santo.

"Ficou patenteado para além da evidência, mas por documentos e depoimentos, que era um faz de conta de controle, tanto por parte do Estado [Minas], do órgão licenciador [a Secretaria de Meio Ambiente], quanto do DNPM", afirma José Adércio Leite Sampaio, coordenador do grupo do Ministério Público Federal que apura o caso.

Lucas Lacaz Ruiz/Folhapress
Vista das barragens de Germano e Fundão, da mineradora Samarco, em Mariana (MG)
Vista das barragens de Germano e Fundão, da mineradora Samarco, em Mariana (MG)

O procurador classifica o processo de fiscalização de "ticagem" -embora os documentos fossem apresentados, seu conteúdo não era conferido pelo poder público.

O órgão estuda ainda a possibilidade de acionar o senador e ex-ministro Edison Lobão (Minas e Energia) por improbidade administrativa.

Segundo Sampaio, o ex-ministro foi alertado de que não havia estrutura no DNPM para a fiscalização adequada, mas "fez pouco caso".

OUTRAS ESFERAS

No âmbito estadual, promotores devem demorar mais alguns meses para apresentar algo concreto.

Dizem ter sinais de que o licenciamento da barragem foi feito com pressa e que documentos essenciais para a liberação do reservatório não foram apresentados.

Nesta semana, eles têm ouvido representantes do Estado, da Samarco e de empresas que prestavam serviços à mineradora para identificar possíveis causas da ruptura.

A empresa é controlada pela Vale e pela BHP Billiton.

Já na esfera penal, foram indiciados sob suspeita de crime ambiental o presidente licenciado da Samarco, Ricardo Vescovi, e outros executivos da companhia.

Segundo Sampaio, a previsão é que as ações civis e criminais saiam na primeira quinzena de fevereiro.

OUTRO LADO

Procurados, o DNPM (vinculado ao Ministério de Minas e Energia) e ex-ministro Edison Lobão disseram que não iriam se manifestar.

O governo de Minas Gerais disse que os documentos solicitados no processo de licenciamento da barragem de Fundão, da Samarco, foram apresentados -embora o Ministério Público afirme que os papéis não atendem ao que foi requisitado.

O subsecretário de Meio Ambiente de Minas Gerais, Geraldo Vitor de Abreu, afirma que a fiscalização cumpriu o que é determinado pela legislação, mas ressalva que "talvez as normas não sejam suficientes".

Em nota, a Samarco, defende que "cumpriu todos os trâmites do licenciamento da barragem de Fundão".


Endereço da página:

Links no texto: