Exoesqueleto estilo robocop, granadas de gás, blindado israelense com visão noturna. Desde os protestos de junho de 2013, o governo Geraldo Alckmin (PSDB) vem montando um arsenal de equipamentos "anti-tumulto" para que policiais militares atuem em manifestações.
O levantamento feito pela Folha com base em contratos e relatórios publicados no "Diário Oficial" do Estado mostra que os gastos são de pelo menos R$ 77 milhões a partir de 2013, quando os protestos forçaram o governador e o prefeito Fernando Haddad (PT) a recuarem no reajuste da tarifa do transporte público.
As manifestações daquele ano também coincidiram com o aparecimento dos chamados "black blocs", mascarados que depredam patrimônio público e privado e que se tornaram um tipo de tropa de choque dos manifestantes.
Os instrumentos mais comuns da polícia nesses confrontos são bombas de gás.
O último relatório de investimentos da PM divulgado no "Diário Oficial" mostra que o gasto anual com esse tipo de munição subiu 112% entre 2013 e 2014, ano da Copa -de R$ 9,9 milhões para R$ 20,9 milhões, mais que o gasto com munição convencional.
Há vários tipos de bomba, desde as mais inofensivas, como as de luz e som, até as mais potentes, como as de gás lacrimogêneo triplas.
Para a compra de 17.500 granadas de quatro tipos diferentes no fim de 2013, o governo estadual gastou a média de R$ 226 pela unidade.
Na manifestação do Passe Livre do último dia 21, na praça da República (centro de SP), em apenas 37 segundos foram utilizados 21 artefatos.
Nos protestos, passou a ser comum ver policiais com um exoesqueleto preto, apelidado de robocop pelos manifestantes. No ano passado, 180 equipamentos do tipo para o Batalhão de Choque custaram R$ 783 mil -R$ 4.300 cada.
Segundo o edital, o traje deve proteger tronco e membros contra objetos perfurantes "arremessados ou empunhados por manifestantes, tais como pedras, bastões de madeira, barras de ferro e bastões de madeira com pregos".
Em 2015, a PM recebeu seis blindados israelenses, batizados de Guardiões, que custaram cerca de R$ 30 milhões.
Comprados para "operações de manutenção da ordem pública", os veículos similares aos caveirões cariocas têm capacidade para levar 24 policiais. São equipados com visão noturna e podem trafegar sobre valas.
DIFERENTES VISÕES
O consultor em segurança José Vicente da Silva, coronel da reserva da PM, afirma que os custos com esse tipo de material são aceitáveis diante da intensificação de protestos a partir de 2013.
"A maior parte desse material é de proteção aos policiais, mesmo a química, que evita o corpo a corpo", diz.
"No Brasil, diferentemente do que acontece na maior parte dos países, os policiais são frequentemente agredidos, por coquetéis molotov, pedradas, estilingue." Além disso, afirma, os materiais servem para dispersar multidões em situações de tumultos.
Para o coordenador da comissão de Direitos Humanos da OAB-SP, Martim de Almeida Sampaio, os equipamentos são utilizados pela polícia de maneira desproporcional.
"Pessoas estão exercendo o direito de protesto e são reprimidas duramente. A desproporcionalidade reside entre o dano causado e a resposta dada. Houve gente que já perdeu olho, se machucou."
Questionada sobre os gastos com armas não letais levantados pela reportagem, a PM afirmou que o objetivo é "preservar a vida e integridade física das pessoas".
"O uso progressivo da força pela PM ocorre como reação a crimes praticados por bandidos infiltrados em grupos de manifestantes", diz.
A PM afirmou também agir dentro da legalidade, "para garantir a segurança de todos os cidadãos, sejam eles participantes ou não do ato".