Folha de S. Paulo


Para botânico, cultura 'antiárvore' ainda predomina em SP

Juliana Russo
Ilustração mostra como será São Paulo do futuro de acordo com planos oficiais
Ilustração mostra como será São Paulo do futuro de acordo com planos oficiais

A cidade com ar puro, rios limpos e ruas arborizadas ainda vai ficar nos sonhos do paulistano por algumas décadas. Mas a boa notícia é que São Paulo tem condições de aprimorar seus indicadores ambientais e de qualidade de vida nos próximos 20 anos.

Para isso, é preciso acelerar projetos e fazer cumprir leis que já existem.

Um exemplo está na área de mudança do clima. Desde 2009 São Paulo tinha em lei a meta de reduzir em 30% as emissões de gases de efeito estufa do município até 2012. Foi atropelada: de 2003 a 2011 (último dado disponível), as emissões não só não caíram como subiram quase 6%, em especial por carros e ônibus.

A prevalência do uso do carro ainda é o que mais contribui para esse atraso. "Vivemos uma dupla crise: a mobilidade em São Paulo não melhorou, e as emissões continuam crescendo", diz André Ferreira, diretor do Iema (Instituto de Energia e Meio Ambiente), que faz parte da rede Observatório do Clima. "O enfrentamento das mudanças climáticas ainda esbarra na falta de disposição em reduzir o uso do carro."

Enquanto os ônibus lançam na atmosfera cerca de 1 milhão de toneladas de carbono todo ano, os automóveis particulares emitem o triplo disso, explica Ferreira.

Para Oded Grajew, coordenador da Rede Nossa São Paulo, é preciso haver uma ação que integre medidas em mobilidade, saúde e áreas verdes. "São Paulo continua com recorde de internações hospitalares em razão da má qualidade do ar, tem déficit de espaços verdes por habitante e descontinuou a inspeção veicular", diz Grajew. "Melhorar os indicadores ambientais depende de dar prioridade a esses temas."

As áreas verdes carecem de um projeto detalhado para as próximas duas décadas. No curto prazo, o plano 2013-2016 da prefeitura prevê plantio de 900 mil mudas. Desse total, 296 mil foram plantadas, segundo a Secretaria do Verde e do Meio Ambiente.

Para o botânico Ricardo Cardim, especialista em arborização urbana, São Paulo ainda vive uma cultura "antiárvore", presente em quem vê progresso em cimentar o quintal e reforçada pelo poder público. "É o pensamento de que árvores sujam a rua e causam problemas."

Mas já é possível detectar uma percepção mais sensível dos jovens, diz a arquiteta e urbanista Adriana Levisky.


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