Folha de S. Paulo


Presa no trânsito, São Paulo chega aos 462 anos voltada aos trilhos

A cidade de São Paulo chega aos 462 anos de fundação com as veias entupidas. Suas ruas e avenidas não dão conta de garantir fluidez para todos os veículos, o que torna a mobilidade um drama diário para milhões de pessoas.

Mesmo nesse estado crítico, que se arrasta há anos, a frota só cresceu na última década: a de carros, 40%, enquanto a de motos, 107%.

Situação que, se agravou o transporte individual, prejudicou ainda mais os usuários de ônibus, meio mais utilizado pelos paulistanos. Segundo pesquisa Datafolha de outubro, 72% dos moradores dizem usar ônibus com frequência, mesmo que combinados com outros modos.

Nos últimos dez anos, porém, o número de passageiros das linhas municipais cresceu apenas 10%.

MOBILIDADE EM SP - Uso da rede sobre trilhos cresce, mas ônibus é o principal meio de transporte

Editoria de Arte/Folhapress

Presos nos congestionamentos, os coletivos fazem viagens demoradas e imprevisíveis, agravando problemas como superlotação e espera nos pontos de parada.

Medidas recentes, como as faixas exclusivas implantadas pela gestão Fernando Haddad (PT), trouxeram certo alívio. Mas não causaram grande mudança no quadro.

"Estávamos em uma situação de caos. Fizemos um cateterismo, abrimos vias específicas de transporte coletivo", afirma Tadeu Leite, diretor da CET (Companhia de Engenharia de Tráfego).

TRILHOS

Quem pode, escapa da incerteza do trânsito pelos trilhos dos trens metropolitanos ou pelos túneis do metrô, meios que mais atraíram passageiros na última década.

Apesar da expansão tímida da rede e de queda na aprovação dos usuários, o número de passageiros no metrô subiu 69%; nos trens, eles quase dobraram –97%.

Para o urbanista Flamínio Fichmann, o aumento foi puxado pela adoção do Bilhete Único pelo Estado em 2006, o que integrou os trilhos aos ônibus da capital –que já usavam o cartão desde 2004.

Também teve início a linha 4-amarela do metrô e houve a modernização dos trens metropolitanos, que ficaram mais parecidos com metrô.

"Tenho carro, uso ônibus para trabalhar porque é mais fácil e mais barato. Mas eu queria mesmo é que tivesse metrô na cidade toda, usaria todo dia –hoje só uso de vez em quando. Acho muito melhor, mais seguro e mais confiável", diz a analista de qualidade Luana Oliveira, 25.

Ela não está sozinha. Um levantamento feito pelo Ibope no ano passado apontou que a ação considerada mais importante pela população para a melhoria da mobilidade é a ampliação da rede de metrô e trens. Na mesma pesquisa, 83% das pessoas que usam carro disseram que o deixariam em casa se houvesse uma boa alternativa de transporte público.

TENDÊNCIA

Segundo especialistas, para que mais gente deixe o carro em casa nos próximos anos será preciso mais investimentos tanto no sistema de ônibus quanto no sobre trilhos.

Para Tadeu Leite, da CET, essa migração já começa a ser sentida, mas vai acontecer de fato quando for concluída a implantação de novos corredores de ônibus e a reorganização das linhas municipais.

Essas ações, atrasadas, correm risco de não serem entregues a tempo por Haddad.

As obras de expansão da rede metroviária, também atrasadas, devem atrair mais pessoas ao sistema quando forem inauguradas.

A Secretaria de Transportes Metropolitanos afirma que o metrô tem quatro obras em execução, nas linhas 5-lilás, 6-laranja, 15-prata e 17-ouro (as duas últimas monotrilhos), além de obras de novas estações em quatro linhas de trens da CPTM.


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