Folha de S. Paulo


No futuro, abismo entre escola pública e particular deve crescer em SP

Juliana Russo
Ilustração mostra como será São Paulo do futuro de acordo com planos oficiais
Ilustração mostra como será São Paulo do futuro de acordo com planos oficiais

Se Marty McFly, do filme "De Volta para o Futuro", desembarcar em São Paulo em 2025, poderá tanto encontrar uma aula de matemática à base de lousa e giz igualzinha à de 1985, quanto uma em um laboratório multidisciplinar de alta tecnologia.

É que, de acordo com especialistas, as escolas de elite paulistanas se alinham cada vez mais com tendências tecnológicas mundiais enquanto a rede pública tende a manter metodologias antigas.

O colégio Bandeirantes, um dos mais tradicionais da capital paulista, já começa neste ano a sua primeira aula multidisciplinar em um laboratório voltado para o ensino médio.

De acordo com Paulo Blikstein, especialista de tecnologia aplicada à educação da Universidade Stanford (EUA), esse tipo de espaço, que une diversas áreas, tende a ficar mais comum.

"As escolas mais avançadas do mundo vão, cada vez mais, parecer uma coleção de estúdios de engenharia, de artes, de esportes", diz. "Os alunos vão navegar nessa teia de estúdios mais autonomamente, trabalhando em projetos ligados ao mundo real", completa ele.

Isso deve afetar, inclusive, a grade curricular. A escola do futuro deve acabar com as disciplinas rígidas, substituídas por projetos mais amplos e interdisciplinares, de língua e de ciência, por exemplo.

Para Blikstein, o problema é levar as metodologias modernas para a rede pública. O atual projeto de currículo nacional (que afetará escolas federais, estaduais, municipais e privadas) em discussão em Brasília, ainda segue o modelo tradicional.

Em São Paulo, as escolas estaduais proíbem o uso do celular, enquanto em diversas particulares o aparelho é liberado para pesquisas. "O segredo é ensinar os alunos a usar o celular com fins pedagógicos", diz Helena Aguiar, gerente de planejamento estratégico do Bandeirantes.

Novos aparelhos, como a lousa digital usada no Dante Alighieri (que se conecta à internet), são uma realidade ainda mais distante das escolas públicas –atualmente só 2% dos colégios do país utilizam essa tecnologia, contra 98% no Canadá. Mesmo o aluno da rede pública, no entanto, deve passar mais tempo estudando no futuro. E isso deve ocorrer em duas vias.

O governo do Estado quer aumentar o ensino integral –em dez anos a meta é alcançar 25% dos estudantes. Já a prefeitura planeja, e precisa, acabar com a fila para creche (atualmente 65 mil crianças), fazendo com que o aluno comece mais cedo na escola.


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