Desigual, congestionada e poluída, São Paulo chega aos 462 anos em busca de soluções aparentemente do passado para tentar se livrar dos problemas no futuro.
Se planos da prefeitura e do Estado se concretizarem, as regiões em torno dos rios Tietê e Pinheiros, berço da industrialização da cidade, devem ser o novo foco de crescimento da metrópole.
Para melhorar a mobilidade e a qualidade do ar, a expansão da rede de trens e metrô, com menos ônibus e menos carros nas ruas, é vista como a melhor solução.
"O entorno dos rios recebeu, historicamente, os maiores investimentos públicos da cidade, como a canalização e as ferrovias. Queremos que essa estrutura possa amparar a vivência da cidade, e não mais a produção industrial", diz à Folha o secretário de Desenvolvimento Urbano, Fernando de Mello Franco.
Apesar da localização central, da infraestrutura instalada e da boa oferta de empregos, a região das marginais ainda é subutilizada. O chamado Arco do Tietê, por exemplo, que vai da Barra Funda à Vila Prudente, tem cerca de 11% dos empregos formais do município, mas apenas 3% dos moradores.
O trecho dessa área que vai da Mooca à Vila Prudente deve ser um dos mais afetados pelos planos. Um projeto para a região, ainda a ser enviado à Câmara Municipal, tem custo estimado de R$ 5,5 bilhões em 20 anos.
O plano prevê a construção de 11 parques, 20 mil unidades habitacionais, novas ruas, avenidas e ciclovias. Com as medidas, a prefeitura estima que a população da região passe de 140 mil para 390 mil.
A Água Branca, na Barra Funda, é outra região que deve passar por mudanças.
Além de um empreendimento imobiliário de grande porte –o Jardim das Perdizes, que, quando terminado, terá 28 torres em 250 mil m²â€“, o bairro deve ganhar áreas verdes, obras de drenagem e moradias de interesse social em terrenos da prefeitura.
AOS POUCOS
Apesar de ser uma reivindicação antiga de urbanistas, a reocupação das áreas à margem dos rios enfrenta críticas. "Seria melhor a prefeitura construir numa área menor e aos poucos avançar", diz o arquiteto Guilherme Ortenblad, do escritório Zoom.
"O Arco do Tietê ainda exige muitas obras para que se torne atraente. Faria mais sentido priorizar a ida da população para o Centro", afirma Marisa Moreira Salles, da ONG Arq.Futuro.
Nas margens do rio Pinheiros, a principal obra será na Vila Leopoldina. O terreno do Ceagesp, de 700 mil m², deve virar um novo bairro depois que o entreposto comercial sair de lá, o que depende do governo federal.
Para se concretizarem, os planos vão ter que superar a histórica falta de continuidade de políticas urbanas.
"Em planejamento urbano, não se faz nada em quatro anos. São Paulo não pode trocar o primeiro, segundo e terceiro escalões de sua equipe a cada mandato", diz a arquiteta dinamarquesa Helle Soholt, sócia do Gehl Architects, que no ano passado prestou consultoria à cidade para implementar um projeto de "praias urbanas" no Centro.
Ideias estimuladas pela prefeitura, como moradias sociais e térreo de uso público, porém, enfrentam resistência do mercado.
Foi o que acabou ocorrendo na Barra Funda, onde o projeto do Bairro Novo, que seguia essas características, acabou substituído pelo Jardim das Perdizes, com torres isoladas do entorno e apartamentos mais caros.
"Quem paga a conta é o mercado imobiliário, então não dá pra atender só a interesses dos urbanistas", diz Fábio Villas Boas, diretor da construtora Tecnisa, do Jardim das Perdizes. " Um futuro melhor está em um acerto entre público e privado", afirma o executivo.