Folha de S. Paulo


Manifestante será julgado por caso de espancamento de coronel em 2013

Um dos episódios mais violentos dos protestos de 2013 em São Paulo, que resultou no espancamento de um coronel da PM, deverá ser analisado pela Justiça ainda no primeiro semestre deste ano.

O caso, em trâmite no fórum da Barra Funda, é um dos mais emblemáticos também pelo crime imputado ao manifestante, tentativa de homicídio, o mais grave resultante da onda de violência dos protestos daquele ano.

Como agora, os manifestantes foram às ruas em 2013 contra o aumento da tarifa do transporte público, mas o foco acabou ampliado com protestos contra a Copa do Mundo e o sistema de saúde.

Na fase final de audiências, o processo deverá ser concluído em maio, quando uma última testemunha será ouvida, ficando livre para ser julgado.

Aluno de relações internacionais, Paulo Henrique Santiago dos Santos, 24, foi denunciado pelo Ministério Público em janeiro de 2015 acusado de tentar matar o coronel da Polícia Militar Reynaldo Simões Rossi.

Se for condenado, a pena pode chegar a pelo menos seis anos de prisão.

O policial foi cercado e espancado por cerca de dez "black blocs" num terminal de ônibus no centro da capital em outubro de 2013. Longe da tropa e acompanhado só pelo motorista, Rossi, que chefiava o policiamento na região central, interveio para tentar evitar o quebra-quebra.

Ele acabou agredido com socos, chutes e pauladas, e ainda teve a arma roubada. Socorrido pelo motorista, o coronel sofreu lesões na cabeça, na clavícula e nas pernas.

Paulo Henrique foi o único jovem identificado nas imagens e, à época, chegou a ficar 13 dias detidos.

Um outro manifestante, Edmílson Jerônimo de Lima, foi acusado de roubar o revólver do PM e também denunciado, mas ele não compareceu à Justiça nas audiências ocorridas em dezembro.

Como nos demais processos de jovens envolvidos na onda de violência dos protestos de 2013, o de Paulo Henrique também apresenta inconsistências que estão sendo exploradas pela defesa.

A advogada do estudante, Andréa Sammartino, cita laudo da Polícia Civil que analisou as cenas do espancamento e atestou que "em nenhuma imagem Paulo aparece em postura ofensiva agredindo ou ostentando objetos capazes de produzir lesões".

"Ele estava na manifestação, mas não agrediu o policial", disse Sammartino.

A denúncia da Promotoria diz que o jovem usava lenço no rosto, mas imagens mostram sua face descoberta.

Uma das testemunhas de acusação, Márcio Yoshio, motorista do PM, afirma que Paulo Henrique foi um dos agressores, inclusive desferindo golpes contra o PM quando ele já estava no chão.

O estudante disse à Folha que vai esperar a conclusão do processo, "dure ele meses ou dez anos", para só então falar a respeito. Ele contou que segue a vida, estudando.

Já o coronel Reynaldo Simões Rossi acabou perdendo o posto de chefe do policiamento da região central após o episódio. Seus comandantes avaliaram que ele errou ao agir de forma isolada.

Meses depois, no início de 2014, ele deixou o cargo, ocupando agora a diretoria de ensino e cultura da PM.

Como o estudante denunciado, Rossi não quis se manifestar sobre a agressão, limitando-se a dizer que todas as suas manifestações já foram feitas no processo.


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