Folha de S. Paulo


Diretor espera reabrir Museu da Língua Portuguesa até 2018

O diretor do Museu da Língua Portuguesa, Antonio Carlos Sartini, 55, espera reabrir o espaço na estação Luz até 2018. O museu, um dos mais visitados da capital paulista, foi destruído por um incêndio em 21 de dezembro.

O bombeiro civil Ronaldo P. da Cruz, 39, morreu no incêndio.

Em entrevista à Folha por telefone, Sartini justifica a esperança: poucas horas depois do incêndio, o governador Geraldo Alckmin (PSDB) garantiu que o local será reconstruído —o acervo do museu, todo digital, foi preservado, pois havia cópias.

"O governador inaugurou o museu em 2006. Imagino que queira reabri-lo em 2018, último ano do mandato. É uma convicção minha, acho que é possível", disse.

Mas não será fácil: a restauração do prédio histórico da Luz, onde ficava o museu, não depende do diretor. A secretaria da Cultura afirma que ainda não há previsão para o início das obras. "Quando o prédio estiver pronto, conseguimos instalar tudo em seis meses", fala, entusiasmado.

Por enquanto, há diversas promessas de ajuda, inclusive do governo de Portugal.

Sem sede, o museu vai atuar em outras frentes. "Como a língua, o museu continua vivo", diz. Ações educativas e de pesquisa serão feitas em bibliotecas e estações de trem, como a própria Luz.

As exposições temporárias, famosas por homenagear grandes escritores da língua portuguesa, devem continuar em outros espaços da capital, segundo o diretor.

Duas delas estão na pauta e dependem, principalmente, de verba: uma de João Ubaldo Ribeiro (1941-2014) e outra sobre o português José Saramago (1922-2010).

Diretor do museu desde a inauguração, em 2006, Sartini diz que prédios tombados como a Luz têm dificuldade em se adequar para conseguir laudo dos bombeiros para funcionar. Todo o complexo da estação Luz, que inclui o museu, não possuía o documento. Leia entrevista abaixo.

Bruno Poletti/Folhapress
Antonio Carlos Sartini, diretor do Museu da Língua Portuguesa
Antonio Carlos Sartini, diretor do Museu da Língua Portuguesa

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Folha - Quando o museu será reaberto?

A obra de restauro é delicada. Me anima saber que o governador do Estado garantiu que vamos reconstruir e reabrir o museu. Foi ele quem inaugurou em 2006. Imagino que ele vai querer reabri-lo até 2018. Acho que é possível. Há um desejo da secretaria de Cultura em reabrir o mais rápido possível.

Diante da crise, o governo do Estado tem dinheiro para a reconstrução?

Não sei. Mas quando o governador vem a público dizer que vai reabrir é muito significativo. Em 2006, quando inauguramos, havia recursos do governo, mas a maior parte era da iniciativa privada.

Quanto vai custar?

Ainda é cedo para dizer.

O governo de Portugal se comprometeu em ajudar?

É verdade. O ministro da Cultura de Portugal [João Soares] e de Negócios Estrangeiros [Augusto Santos Silva] nos falaram, via consulado, que o governo de Portugal quer colaborar.

Com dinheiro?

Acredito que sim, mas parceria institucional e de conteúdo também abre possibilidade. Também recebemos mensagens de empresas e de pessoas de outros países. Alguns dizem: 'tenho um dinheirinho, como faço para ajudar?'

A Fundação Roberto Marinho, que implantou o museu, vai participar dessa vez?

Tenho certeza que sim. Vi pela imprensa que estão interessados. Também recebemos mensagens da Calouste Gulbenkian [fundação portuguesa de apoio à cultura]. Eles se colocaram à disposição para esse processo.

O museu pode funcionar provisoriamente em outro local?

O museu continua vivo, mas estamos sem sede. As ações educativas e de pesquisa estarão espalhadas pela cidade, em estações de trem.

E as exposições que estavam previstas serão canceladas?

Não diria isso. Temos exposições ainda na pauta. Uma é sobre o João Ubaldo Ribeiro, e depende de conseguir recursos. Estou conversando com a Pilar, viúva do José Saramago, para uma exposição sobre ele. Estamos estudando usar outros espaços da cidade para as exposições.

Vai mudar algo na concepção do museu? Alguns críticos dizia que faltava uma biblioteca.

Acho que não vai mudar. O formato do museu era acertado. Perto da Luz, temos a segunda maior biblioteca do país, que é a Mário de Andrade. Não faz sentido você começar uma do zero.

A estação Luz e o museu não tinham laudo dos Bombeiros para funcionar. Por quê?

Todos os prédios tombados têm uma muita dificuldade quanto a isso. Exigem uma coisa, mas o tombamento não permite que você mude. Outro fator é que a estação Luz é um condomínio: tem o museu, estação de trem e de metrô. Nós tínhamos todos os equipamentos solicitados pelos Bombeiros. Estávamos em dia e atuante.

O sr. estava no museu na hora do incêndio? Sabe como começou?

De segunda-feira fazíamos manutenção, não era aberto ao público. Tudo indica que começou no primeiro andar. Mas essa questão agora saiu das nossas mãos, depende da polícia científica. Estamos colaborando.

O sr. está à frente do museu desde 2006. Como foram esses dias após o incêndio?

Parece que perdi um ente querido. É um vazio muito grande. Alterno momentos de depressão e de entusiasmo, pela chance de reabrir.


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