Folha de S. Paulo


Para cientistas, surto de microcefalia pode ter fatores adicionais ao zika

A força-tarefa de cientistas de diversos institutos de pesquisas, liderada pelo Instituto de Ciências Biomédicas da USP, que se prepara para uma infestação do vírus zika no Brasil a partir de março, avalia a possibilidade de outros fatores, além da ação isolada do micro-organismo, estarem causando o surto de microcefalia no país.

A equipe, que trabalha há um mês em regime de urgência, já conseguiu desenvolver um tipo de diagnóstico molecular capaz de detectar o zika, mas ele não é indicado para o trabalho em grande escala e tem custo elevado.

Grandes hospitais como o Albert Einstein, a Fundação Pró-Sangue e laboratórios de referência já estão com acesso à tecnologia, que deve avançar mais para ser mais rápida, prática e eficiente "nos próximos meses".

"O objetivo é criar uma forma de detecção rápida colhendo amostras de urina ou até de saliva. Vamos nos armar para um grande possível surto, mas ainda não sabemos dizer se ele virá", afirmou Paulo Zanotto, coordenador da Rede Zika, como é chamada a força-tarefa.

Editoria de Arte/Folhapress

Nesta sexta-feira (8), a rede ganhou o reforço de especialistas do Instituto Pasteur de Dacar, no Senegal, entre eles o diretor científico, Amadou Alpha Sall, que trabalhou no combate à epidemia do ebola na África.

Para o pesquisador, é preciso criar um protocolo seguro de diagnósticos para zika para uma ação de preservação efetiva da população.

Mas, por enquanto, segundo ele, ainda não é possível afirmar cientificamente que haja relação entre o vírus e os casos de microcefalia. Embora as medidas preventivas adotadas atualmente sejam corretas e prudentes.

"Temos que analisar outros fatores no epicentro do problema, o nordeste. Pode haver uma interação da ação de diferentes vírus ou um tipo de mosquito específico agindo por lá e também é preciso considerar condições locais que propiciem o desenvolvimento da doença", diz.

Para os pesquisadores, a concentração de casos de microcefalia em Estados nordestinos –86%, segundo o último balanço do Ministério da Saúde– é indicativo "importante" de que é preciso avançar na investigação de fatores locais para a microcefalia.

VACINA

Por enquanto, uma vacina que combata o zika não está entre as medidas urgentes da força-tarefa, uma vez que exige o cumprimento de uma série de procedimentos e a resposta para uma possível epidemia do vírus no Brasil precisa ser mais rápida.

"Vacina é sempre uma prioridade, mas a situação do Brasil, que está chamando a atenção do mundo todo, precisa de uma resposta terapêutica mais urgente", declarou Luís Carlos de Souza Ferreira, vice-diretor do Instituto de Ciências Biomédicas.


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